Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

ela fizera alguma coisa ao rosto. Havia algo nas proporções que não parecia
correcto. Por outras palavras, elas eram demasiado correctas. O seu rosto era
quase artificialmente simétrico.


– De Santa Lúcia. O meu marido foi durante onze anos o cônsul norueguês
no país. Tínhamos uma fábrica onde cosiam tapetes de chuveiro. Também
temos lá uma pequena casa. Já esteve em...?


– Não.
– Uma ilha fantástica, doce, maravilhosa. Alguns dos habitantes mais
velhos ainda falam francês. Devo dizer que é um francês incompreensível,
mas é difícil de acreditar como são encantadores.


– Francês crioulo.
– O quê?
– Já li coisas a esse respeito. Acha que o seu marido poderá saber como é
que esta fotografia foi parar nas mãos de uma mulher morta?


– Não imagino como o poderá saber. Porque é que o deveria saber?
– Hm. – Harry sorriu. – Talvez também seja difícil dizer porque é que
alguém tem a fotografia de desconhecidos enfiada no próprio sapato. –
Levantou-se. – Onde é que o posso encontrar, fru Albu?


Enquanto Harry apontava o número de telefone e morada do escritório de
Arne Albu, olhou por acaso para o sofá onde estivera sentado.


– Hm... – disse quando viu Vigdis Albu a seguir-lhe o olhar. – Escorreguei
no contentor de lixo. Claro que eu...


– Não tem importância – interrompeu-o ela. – De qualquer maneira na
próxima semana, a cobertura vai ser limpa a seco.


Na escadaria exterior, perguntou a Harry se, pensando melhor, ele poderia
esperar até às cinco horas para ligar ao marido.


– A essa hora, já está em casa e não estará tão ocupado.
Harry não respondeu e observou os cantos da boca da mulher a subirem e a
descerem.


– Depois ele e eu podemos... ver se lhe conseguimos resolver este assunto.
– Obrigado, é muito amável da sua parte, mas tenho aqui o meu carro e
fica-me em caminho, por isso vou directamente até ao escritório tentar ver se
o encontro.

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