Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

inicialmente lhe teria dado. – Peço desculpa pelo mal-entendido – prosseguiu,
ainda com o som de riso na voz. – Posso ajudá-lo, senhor agente?


Harry observou-o, e antes de prosseguir tentou formar rapidamente uma
imagem do homem. A tonalidade da voz era da variante sonora. Olhar firme.
Colarinho branco imaculado atrás de uma gravata, não demasiado solta nem
demasiado apertada. O facto de não se ter resumido a um simples «Sou eu»,
mas ter acrescentado uma desculpa e um «Posso ajudá-lo, senhor agente?» –
com uma ênfase ligeiramente irónica no «agente» – sugeriu que Arne Albu ou
era muito autoconfiante ou tinha uma enorme prática em transmitir essa
imagem.


Harry concentrou-se. Não naquilo que ia dizer, mas no modo como Albu ia
reagir.


– Pode, sim, Albu. Conhece Anna Bethsen?
Albu olhou para Harry com os mesmos olhos azuis da mulher, e passado
um instante de reflexão soltou uma resposta alta e clara:


– Não.
O rosto de Albu não revelou a Harry mais do que a boca revelara. Não que
Harry pensasse que o fosse revelar. Já há muito que deixara de acreditar no
mito que dizia, que indivíduos cujas profissões os faziam conviver
diariamente com mentiras aprendiam a reconhecê-las. Houvera uma vez um
polícia que durante um caso em tribunal afirmara que, dada a sua longa
experiência, sabia quando os acusados estavam a mentir. Ståle Aune, de novo
um instrumento da defesa, respondera que pesquisas mostravam que nenhum
grupo profissional era melhor que outro a detectar mentiras; um empregado
de limpeza era tão bom quanto um psicólogo ou um polícia, ou seja, tão mau.
O único grupo, num estudo comparado, que se situou acima da média geral
foi o dos agentes dos serviços secretos. No entanto, Harry não era agente dos
serviços secretos. Era um rapaz de Oppsal pressionado pelo tempo, de mau
humor e naquele momento a mostrar um péssimo discernimento. Confrontar
um homem em circunstâncias potencialmente comprometedoras na presença
de outros, sem quaisquer fundamentos para suspeitas, não poderia ser
considerado algo de eficaz nem aquilo que qualquer pessoa teria chamado de
jogo justo. Por isso, Harry tinha a consciência de que não devia estar a fazer
aquilo.


–   Alguma  ideia   de  quem    lhe poderia ter dado    esta    fotografia?
Os três homens estudaram a fotografia que Harry pousou sobre a mesa.
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