– Hm.
– Alguma vez voltaste a Oppsal? O teu pai ainda vive na mesma casa, não
vive?
– Sim, mas não vou lá muitas vezes. De vez em quando, falamos ao
telefone.
– E a tua irmã? Está melhor?
Harry sorriu.
– Não se fica melhor quando se tem a síndrome de Down, Øystein. No
entanto, está boa. Tem o seu próprio apartamento em Sogn. E um
companheiro.
– Céus, então está melhor que eu.
– Que tal está a condução?
– Está boa. Acabei de mudar de companhia de táxis. Os últimos achavam
que eu snifava. Uma estupidez.
– Ainda não estás interessado em voltar aos computadores?
– Estás doido! – Øystein conteve uma gargalhada interior, ao mesmo tempo
que passava a língua pela extremidade do papel. – Um salário anual de um
milhão e um escritório silencioso... claro que ficaria satisfeito com isso mas
perdi a minha oportunidade, Harry. A época de tipos do rock’n’roll como eu
na IT^6 já passou.
– Estive a falar com alguém do Departamento de Protecção de Dados do
Den norske Bank. Ele disse-me que ainda és considerado como um dos
pioneiros em descodificação.
– Pioneiro significa «já ultrapassei isso», Harry. Ninguém tem tempo para
um hacker acabado e dez anos desactualizado em relação às últimas
tecnologias. Estás a perceber, não estás? E depois havia todas aquelas
chatices.
– Hm. O que é que aconteceu na realidade?
– O que é que aconteceu? – Øystein rolou os olhos. – Tu conheces-me.
Uma vez hippy sempre hippy . Precisava de dinheiro. Tentei um código que
não devia. – Acendeu o cigarro acabado de fazer e olhou em volta à procura
de um cinzeiro. Em vão. – E tu? Deixaste de te dedicar à garrafa de vez, não
foi?
– Estou a tentar. – Harry estendeu-se para tirar um cinzeiro de uma mesa