Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

túnel significava que o cérebro não estava a receber o sangue suficiente. Os
limões brilhantes no exterior da loja de Ali começaram a perder o brilho.
Algo negro, achatado, molhado e sólido subiu e explodiu-lhe no rosto. Sentiu
o sabor a gravilha. Ouviu à distância a voz de Albu:


– Larga!
A pressão à volta do seu pescoço afrouxou. A posição de Harry na terra
afastou-se lentamente do sol, e estava escuro como breu quando ouviu alguém
dizer:


– Está vivo? Consegue ouvir-me?
Depois um clique metálico junto à orelha. Peças de uma arma. A engatarem
o gatilho.


– Fod...
Ouviu um rugido profundo e a erupção de vómito quando atingiu o
alcatrão. Mais cliques metálicos. Um travão de segurança a ser puxado...
Dentro de segundos estaria tudo terminado. Era assim que se sentia. Não era
desespero, nem medo, nem sequer arrependimento. Apenas alívio. Não iria
deixar muito para trás. Albu estava a demorar um certo tempo. Tempo
suficiente para que Harry descobrisse que afinal havia alguma coisa. Alguma
coisa que ia deixar. Encheu os pulmões de ar. A rede de artérias absorveu o
oxigénio e bombeou-lho pelo cérebro.


– Certo, agora... – começou a voz, mas parou de repente quando o punho
de Harry lhe atingiu a laringe.


Harry conseguiu ajoelhar-se. Não lhe restavam muitas forças. Tentou reter a
consciência enquanto esperava pelo golpe final. Passou-se um segundo. Dois
segundos. Três. O cheiro a vómito queimava-lhe o nariz. Começou a focar as
luzes dos candeeiros. A rua estava vazia. Deserta. Exceptuando um homem
deitado ao seu lado com um casaco acolchoado azul e aquilo que se parecia
com a parte superior de um pijama a sair-lhe pela gola, um homem que
gorgolejava. A luz incidiu no metal. Não era uma arma, era um isqueiro. Só
naquele momento é que Harry viu que o homem não era Arne Albu. Era
Trond Grette.


Com uma chávena de chá escaldante na mão, Harry sentou-se à mesa da
cozinha em frente de Trond cuja respiração ainda era árdua e ruidosa, e cujos
olhos desfocados atingidos pelo pânico pareciam querer irromper-lhe do
crânio. Quanto a ele, sentia-se tonto e nauseado, e as dores do pescoço
latejavam como espinhos.

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