– Ok. Talvez seja um amigo de Lev. Devemos ajudá-lo?
Fred sacudiu a cabeça.
– Lev disse que vive aqui completamente in... incog... qualquer coisa em
latim que significa secreto. Muhammed fingiu que nunca tinha ouvido falar
dele. Se Lev quiser, o tipo acabará por o encontrar.
– Estava a brincar. Já agora, onde é que está Lev? Já não o vejo há algumas
semanas.
– A última vez que soube dele estava de partida para a Noruega – disse
Fred, a erguer lentamente a cabeça.
– Talvez tenha assaltado um banco e sido apanhado – disse Roger e sorriu
ao pensar nisso. Não porque quisesse que Lev fosse apanhado, mas porque a
ideia de assaltar bancos sempre o fizera sorrir. Ele fizera-o três vezes, e de
todas as vezes aquilo enchera-o de adrenalina. Verdade que tinham sido
apanhados das duas primeiras vezes, mas tinham feito tudo como devia ser da
terceira. Quando descrevia o assalto, normalmente omitia a circunstância
afortunada de as câmaras de vigilância estarem temporariamente fora de
serviço, mas, apesar disso, a recompensa permitira-lhe gozar ali, em d’Ajuda,
do seu ócio e de tempos a tempos do seu ópio.
A vila, pequena e bela, situava-se a sul de Porto Seguro e até muito
recentemente albergara o maior aglomerado, de todo o continente, de
indivíduos procurados a sul de Bogotá. Tivera o seu início nos anos setenta
quando d’Ajuda se transformara num ponto de encontro para hippies e
viajantes que viviam do jogo, e que durante os meses de Verão vendiam
joalharia feita em casa e faziam pinturas corporais pela Europa. Isso
representava um rendimento extra para d’Ajuda e, de um modo geral, não
incomodavam ninguém. E assim, as duas famílias brasileiras, que em
princípio possuíam todos os ofícios e indústrias da vila, chegaram a um
acordo com o chefe da polícia local, e em resultado disso viravam-se as costas
àqueles que fumavam marijuana na praia, nos cafés, no crescente número de
bares e, à medida que o tempo passava, nas ruas e por toda a parte.
No entanto, havia um problema: as multas que se passavam aos turistas por
fumarem marijuana e quebrarem outras leis ainda desconhecidas eram,
noutros lugares, uma importante fonte de rendimentos para a polícia, a quem
o Estado pagava uma miséria. De modo a que o lucrativo negócio turístico e a
polícia pudessem coexistir em harmonia, as duas famílias tiveram de fornecer
as forças da autoridade com rendimentos certos e alternativos. Isso teve o seu
início com um sociólogo americano e o seu namorado argentino, os