Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

pernas e reparou numa nódoa desvanecida no tecido. Fê-lo lembrar-se da
nódoa no seu sofá, causada por sangue menstrual.


Sorriu ao lembrar-se disso.
Ao lembrar-se de Beate Lønn.
A doce e inocente Beate Lønn, que se sentara do outro lado da mesa de
centro e engolira todas as palavras que ele dissera como se fossem torrões de
açúcar no seu café com leite, uma bebida de rapariguinha. Acho que é
essencial ter a coragem de sermos nós mesmos. A coisa mais importante
numa relação é a honestidade, não concordas?
Era difícil saber escolher
entre a selecção de pseudoclichés de que as jovens gostavam, mas era óbvio
que acertara com Beate. Ela seguira-o docilmente a casa, depois de ele lhe ter
misturado na bebida algo que era tudo menos de rapariguinha.


Teve de se rir. No dia seguinte, Beate Lønn pensara que o seu desmaio fora
devido ao cansaço e ao facto de a bebida ser mais forte do que aquilo a que
estava habituada. O importante era conseguir a dose certa.


A melhor parte fora na manhã seguinte quando entrara na sala de estar e ela
estava a esfregar com um pano molhado uma nódoa do sofá onde, na noite
anterior, tinham tratado dos preliminares antes de ela ter desmaiado e o
verdadeiro divertimento ter começado.


– Desculpa – disse ela, quase a chorar. – Só agora é que vi. É tão
embaraçoso. Pensei que só ia aparecer na próxima semana.


– Não interessa – respondeu ele e fizera-lhe uma festa na face. – Desde que
dês o teu melhor para tirares essa porcaria daí.


Depois tivera de correr até à cozinha. Abrira a torneira e batera com a porta
do frigorífico para abafar as gargalhadas. Enquanto Beate esfregava a mancha
de sangue deixada por Linda. Ou teria sido Karen?


Vigdis chamou-o da cozinha.
– Quer leite no seu café, Tom? – A voz dela soava dura; tinha um certo
timbre da Zona Oeste de Oslo. De qualquer maneira, já descobrira aquilo de
que precisava.


– Acabei de me lembrar que tenho uma reunião na cidade – disse. Virou-se
e viu-a de pé na entrada da cozinha com duas chávenas de café e olhos
grandes, surpreendidos. Como se ele a tivesse esbofeteado. Demorou-se a
pensar nisso.


–   Precisa de  tempo   para    si  –   disse   Waaler  e   levantou-se.    –   Eu  sei.    Como    lhe
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