Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

rapidamente e sem cerimónias. As crianças olhavam para Harry, ao mesmo
tempo que soltavam risadinhas e se acotovelavam. Harry piscou-lhes um olho
e tentou sorrir, enquanto as sensações regressavam lentamente ao seu corpo
rígido e dormente. O que não era uma boa notícia já que era um corpo de dois
metros e todos os centímetros lhe doíam. Depois disso, Simon dera-lhe dois
cobertores de lã e uma palmadinha amistosa no ombro, e com a cabeça
apontara para a caravana mais pequena.


– Não é o Hilton mas aqui está em segurança, meu amigo.
Qualquer calor que ainda restava no corpo de Harry desapareceu assim que
entrou na caravana, que se assemelhava a um frigorífico com o formato de um
ovo. Descalçara os sapatos de Øystein que eram, pelo menos, um número
abaixo do seu, esfregou os pés e tentou arranjar espaço para as pernas
compridas na cama curta. A última coisa de que se lembrava fora de tentar
despir as calças molhadas.


– Eh-eh-eh.
Harry voltou a abrir os olhos. O pequeno rosto moreno desaparecera e
agora as gargalhadas vinham do exterior através da porta aberta, por onde
entrava uma faixa de sol que incidia na parede atrás dele e nas fotografias ali
pregadas. Harry soergueu-se sobre os cotovelos e olhou para elas. Uma
mostrava dois rapazinhos com os braços à volta um do outro, em frente da
caravana na qual se encontrava agora. Pareciam satisfeitos. Não, mais que
isso. Pareciam felizes. Talvez fosse por isso que Harry mal reconheceu um
Raskol jovem.


Rodou as pernas para fora do beliche e decidiu ignorar a dor de cabeça.
Para se certificar de que o estômago estava bem, ficou sentado durante alguns
segundos. Já passara por situações muito piores do que as do dia anterior,
muito piores. Durante a refeição da noite anterior estivera prestes a perguntar
se tinham alguma coisa mais forte para beber, mas conseguira conter-se.
Talvez o seu corpo fosse capaz de tolerar melhor a bebida, agora que se
encontrava sóbrio há tanto tempo.


A sua pergunta foi respondida assim que saiu da caravana.
As crianças olharam-no espantadas, quando Harry se apoiou ao eixo do
reboque e vomitou na relva castanha. Tossiu, cuspiu algumas vezes e limpou
a boca com as costas da mão. Quando se virou, Simon estava atrás dele com
um sorriso aberto no rosto, como se esvaziar o estômago fosse o modo mais
natural de se iniciar um dia.


–   Comida, meu amigo?
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