Vingança a Sangue-Frio

(Carla ScalaEjcveS) #1

T


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Fusiform Gyrus


om Waaler estendeu-lhe o presente, tendo um grande cuidado para não
lhe tocar já que ela ainda tinha a linguagem corporal de um antílope
assustado, algo que os predadores conseguiam sentir. Em vez disso passou por
ela, entrou na sala de estar e sentou-se no sofá. Ela seguiu-o, mas ficou de pé.
Waaler olhou em volta. Encontrava-se a intervalos regulares em apartamentos
de jovens, e estavam todos mobilados mais ou menos da mesma maneira. De
um modo pessoal mas pouco original, aconchegado mas monótono.


– Não vais abrir? – perguntou ele.
Ela fez o que ele lhe indicou.
– Um CD – respondeu intrigada.
– Não é um CD qualquer – disse Waaler. – É o Purple Rain . Põe-lo a tocar
e vais compreender.


Observou-a enquanto ela ligava o rádio combinado com CD, a que ela e as
outras gostavam de chamar aparelhagem. Frøken Lønn não era exactamente
atraente. No entanto, era doce à sua maneira. O corpo não era muito
inspirador, poucas curvas às quais se agarrar, mas era esguio e estava em
forma. Ela gostara daquilo que ele lhe fizera e mostrara um entusiasmo
saudável. Pelo menos, as primeiras e poucas vezes em que levara as coisas
devagar. Sim, de facto, aquilo durara mais do que aquela única vez. Na
verdade, algo de surpreendente porque ela não fazia de modo nenhum o seu
género.


Depois, uma noite, dera-lhe o tratamento completo. E ela – em comum com
a maioria das mulheres que ele conhecia – não se encontrava no mesmo
comprimento de onda. O que ainda tornava as coisas mais sedutoras para ele,
mas, regra geral, significava que era a última vez que ouvia falar delas. Algo
que lhe passava completamente ao lado. Beate devia dar-se por satisfeita;
podia ter sido muito pior. Algumas noites antes, sem qualquer motivo, ela
dissera-lhe onde o vira pela primeira vez.


– Em Grünerløkka – dissera. – Era de noite e estavas sentado num carro
vermelho. As ruas estavam cheias de pessoas e tinhas a janela aberta. Era
Inverno. O ano passado.

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