O Natal chegou mais cedo para o consórcio de seguradoras do Nordea já
que o dinheiro do assalto ao balcão de Bogstadveien foi encontrado no porta-
bagagem do carro de Trond, e não faltava nem um krone.
Os dias passaram, a neve chegou e o interrogatório continuou. Numa tarde
de sexta-feira, quando estavam todos exaustos, Harry perguntou a Trond
porque é que ele não vomitara quando atingira a mulher na cabeça – afinal,
não aguentava ver sangue. A sala ficou silenciosa. Trond olhou para a câmara
a um canto. Depois limitou-se a sacudir a cabeça.
Mas quando terminaram e avançavam pelo Culvert de regresso às celas,
virara-se subitamente para Harry e dissera:
– Depende de quem é o sangue.
No fim-de-semana, Harry sentou-se numa cadeira junto da janela a observar
Oleg e os rapazes da vizinhança a construírem fortes de neve no jardim da
casa de madeira. Rakel perguntou-lhe em que é que ele estava a pensar e ele
quase o disse. Em vez disso, sugeriu que fossem dar um passeio. Ela foi
buscar chapéus e luvas. Passaram pela pista de saltos de Holmenkollen, e
Rakel perguntou se deviam convidar o pai e a irmã de Harry para passarem o
Natal em casa dela.
– Somos a única família que resta – disse ela e apertou-lhe a mão.
Na segunda-feira, Harry e Halvorsen começaram a trabalhar no casso Ellen.
Desde o início. Interrogaram testemunhas que já tinham interrogado antes,
leram antigos relatórios e verificaram informações que não tinham sido
seguidas, bem como velhas pistas. Pistas frias, como vieram a descobrir.
– Tens a morada do tipo que disse ter visto Sverre Olsen com um homem
num carro vermelho, em Grünerløkka? – perguntou Harry.
– Kvinsvik. A morada dele é a casa dos pais, mas duvido que o
encontremos aí.
Harry não esperava muita cooperação quando entrou no Herbert’s Pizza a
perguntar por Roy Kvinsvik. Mas depois de pagar uma cerveja a um jovem
com o logo da Nasjonalallianse na T-shirt , ficou a saber que já não tinham de
manter o voto de silêncio a respeito de Roy, pois esse cortara há pouco tempo
os laços com os seus antigos amigos. Aparentemente Roy conhecera uma
rapariga cristã e perdera a sua fé no nazismo. Ninguém sabia quem ela era
nem onde Roy vivia agora, mas alguém vira-o a cantar no exterior da Igreja
de Filadélfia.