abordagem da investigação paralela como se a ideia fosse sua.
– O que é que terias feito se fosses o líder da equipa e tivesses recebido uma
tal ordem vinda de cima?
– A ideia de me ver como líder de uma equipa é muito perturbadora, chefe.
Como é que chego a esse apartamento?
– Fica onde estás. Vão-te buscar.
Vinte minutos depois, ouviu-se o som forte de uma buzina, algo que Harry
ouvia tão raramente que se sobressaltou. A voz, metálica e distorcida pelo
intercomunicador, disse que o táxi chegara mas Harry sentiu os pêlos da nuca
levantarem-se. Quando desceu as escadas e viu o carro desportivo baixo e
vermelho, um Toyota MR2, as suas suspeitas confirmaram-se.
– Boa noite, Hole. – A voz vinha da janela aberta do veículo, mas estava tão
próxima do alcatrão que Harry não conseguia ver quem estava a falar. Harry
abriu a porta do carro e foi acolhido por um baixo de funky , um órgão tão
sintético quanto um caramelo cheio de corantes e um falsetto familiar: « You
sexy motherfucka! »
Harry enfiou-se, com dificuldade, no assento baixo e estreito.
– Então esta noite somos nós dois – disse o inspector Waaler, a abrir um
maxilar teutónico e a revelar uma impressionante fileira de dentes impecáveis
no centro do rosto bronzeado. Mas os olhos azul-árctico permaneceram frios.
Havia muitos no Quartel-general da Polícia que antipatizavam com Harry,
mas ele sabia que apenas uma pessoa nutria um verdadeiro ódio por ele. Aos
olhos de Waaler, Harry sabia ser um indigno representante da polícia e assim
uma afronta pessoal. Em várias ocasiões, Harry deixara bem claro que não
partilhava as perspectivas cripto-fascistas de Waaler e de alguns dos seus
colegas no que se referia a homossexuais, comunistas, beneficiários de
subsídios de inserção social, paquistaneses, chineses, negros, ciganos e
latinos, enquanto pelo seu lado Waaler chamava a Harry um «ressacado
incompetente». E Harry desconfiava que o verdadeiro motivo do seu ódio era
o facto de ele beber. Tom Waaler não tolerava fraquezas. Harry achava ser
esse o motivo para ele passar tantas horas no ginásio a praticar pontapés altos
e socos contra sacos de areia, e uma fiada de novos companheiros de treino.
No refeitório, Harry ouvira um dos jovens agentes, com admiração na voz, a
descrever como Waaler partira os braços a um karaté kid de um gang
vietnamita junto à estação central de Oslo. Dada a opinião que Waaler tinha
da cor da pele, era um paradoxo para Harry que o seu colega passasse tanto
tempo no solário, mas talvez fosse verdade aquilo que um brincalhão dissera: