10 • Público • Segunda-feira, 14 de Outubro de 2019
POLÍTICA
O aumento
da abstenção,
a pulverização
partidária e
o envelhecimento
da população estão
a levar à erosão
do eleitorado
comunista
e ecologista.
O que nos dizem
as estatísticas?
como as 35 horas semanais, a reforma
aos 60 anos e o aumento dos salários
mais baixos, como apontou Pascal
Perrineau, académico da Sciences Po
(Paris), no livro Esta França de Esquer-
da que Vota Frente Nacional.
Embora admita que esta explicação
tem feito escola em vários países,
sobre Portugal o politólogo António
Costa Pinto, do Instituto de Ciências
Sociais, é mais cauteloso e vai avisan-
do que a escala de votos do Chega
“ainda é muito pequena para uma
análise profunda”, até porque foi uma
estreia em legislativas. Mas é normal
que sejam dois partidos que “convi-
vam” em zonas do Alentejo ou da
cintura industrial, com o Chega a
capitalizar junto do eleitorado que
votava PNR ou no resto da direita.
Sobre a CDU, Costa Pinto realça que
a “erosão progressiva do eleitorado”
não é de agora e que ela tenderá a
Partidos
Maria Lopes
CDU foi mais forte onde há menos
desemprego e mais crime
Passou de 17 para 12 deputados, mas
para onde foram os 115 mil votos que
a CDU perdeu entre as legislativas de
2015 e as da passada semana? Para o
PAN, o PS e para o Chega. Se há quem
diga que os (quase) extremos se
tocam, este é o exemplo. E se esse
pode parecer um dado surpreenden-
te, então há mais alguns interessantes
sobre os concelhos onde a CDU obte-
ve os seus melhores resultados: têm
menos desempregados do que a
média do país, o poder de compra é
superior à média nacional, a taxa de
criminalidade é maior e há mais imi-
grantes. E ainda uma conÆrmação
sobre idosos: sim, onde a CDU tem
mais votos a percentagem de maiores
de 65 anos é mais alta do que a média
vento algarvio, e nos distritos de Lis-
boa e Santarém. Os únicos concelhos
onde venceu foram Mora (Évora) e
Avis (Portalegre), mas a olhar por cima
do ombro para o PS, que subiu a vota-
ção em ambos. Entre as duas eleições,
a CDU não alterou a sua inÇuência
geográÆca — apenas a reduziu.
Apelo das políticas laborais
De acordo com o EyeData, os conce-
lhos onde o Chega teve melhor vota-
ção foram, na sua larga maioria, os
mesmos onde em 2015 a CDU tinha
tido melhores resultados e onde
assim continua. Esta é uma tendência
internacional: em França, Marine Le
Pen conquistou eleitorado à esquer-
da, em terreno tradicionalmente
comunista, nas periferias e cinturas
industriais afectadas pela crise, ao
usar o mesmo discurso de reivindica-
ção de políticas e direitos sociais,
nacional — mas o CDS e o PSD conse-
guem ultrapassá-la.
Ao relacionar os dados da votação
de dia 6 dos vários partidos e os de há
quatro anos, percebe-se que nos con-
celhos onde a CDU teve melhor vota-
ção em 2015 foi onde o partido lide-
rado por André Ventura agora tam-
bém recolheu mais votos. Além disso,
a coligação entre o PCP, o PEV e a ID
foi mais forte em concelhos onde a
taxa de desemprego é menor do que
a média nacional mas onde a crimi-
nalidade é mais elevada. Estes são
alguns traços de um retrato possível
de fazer com a ajuda do portal EyeDa-
ta, uma parceria da Social DataLab
com a agência Lusa que cruza infor-
mação de várias bases estatísticas.
A maior implantação da CDU, ou
seja, o terço dos concelhos onde teve
melhor votação, situa-se essencial-
mente no Alentejo, na zona do barla-
1975 1976 1979 1980 1983 1985 1987 1991 1995 1999 2002 2005 2009 2011 2015 2019
A evolução eleitoral do PCP em legislativas
Fontes: PÚBLICO/Comissão Nacional de Eleições PÚBLICO
1976 1995 2011 2019
PCP APU — Aliança Povo Unido
PCP + MDP/CDE e após 1983
Partido Ecologista “Os Verdes”
CDU — Coligação Democrática Unitária
PCP e Partido Ecologista “Os Verdes”
12,
14,
18,
16,
18,
15,
12,
8,8 8,6 9
6,9 7, 5 7,9 7,
8,
6,
Evolução dos resultados na legislativas desde 1975 (%)
Concelhos ganhos pelos PCP e por coligações com o PCP
TOTAL
38
TOTAL
7
TOTAL
10
TOTAL
2