Novas Lendas Orientais

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Por Alá, meu amigo! — exclamou o argelino. — Sabes quem está
morando agora aqui, em Tlemcen? Aquele famoso cádi, o sábio, que fazias
tanto empenho em conhecer. Sim — confirmou risonho o guitarrista. — O
honrado e benquisto Rafik ben-Najm.


Ora, o guitarrista argelino não era homem inclinado a rir-se das coisas
sérias.


Exultei, pois, com a notícia. Colhi, no mesmo instante, todas as
informações precisas. O justo cádi instalara-se em pequeno prédio, de
janelas verdes, que ficava na rua Ora, dois quarteirões à direita, além da
mesquita.


No dia seguinte, depois da prece da tarde, dirigi-me à residência do cádi.
Era uma casa simples, mas bem-arranjada e distinta. O pátio interno era um
primor pelas plantas viçosas e raras que o adornavam. Homem fino, o justo
cádi!


Recebeu-me, atencioso, com vivas demonstrações de simpatia. Contei-
lhe que o havia conhecido na Tenda da Justiça, em Khalfallah, durante
acidentado julgamento. Procurava-o, naquele momento (disse com a maior
franqueza), impelido por uma curiosidade martelante: como havia resolvido
aquele interessante e delicado litígio dos dois maridos que pretendiam a
mesma esposa?


— O caso da jovem Najat, filha de Jamil?
— Esse mesmo! — confirmei.
— Vou informá-lo da minha sentença — tornou o justo cádi, com alegre
sombra. — Antes, porém, vamos saborear uma taça de delicioso café!


Naquele mesmo instante vi surgir, na sala, uma criatura encantadora,
elegantemente vestida; trazia nas mãos graciosas (pintadas de hena)^25 larga
bandeja de prata com duas xícaras de café de Adem!^26


Foi, para mim, indescritível surpresa. Logo a reconheci. Era a formosa
Najat!


O   cádi    encarou-me  risonho e   apresentou, com certo   entono  vaidoso:
— Eis, ó mercador, a minha esposa! É Najat, a filha de Jamil!
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