mágico? Que pretexto poderiam alegar? E o gato estaria de acordo? Aceitaria
com prazer aquela mudança violenta do destino? Isso de subir de gato (tão
querido e mimado) para a situação de príncipe seria do agrado de Lapa-Uck?
E Dan-Diak, amontoando dúvidas, construía o seu castelo de incertezas.
Mas a mulher tanto falou, tanto pediu, tanto teimou que o marido
acabou cedendo. E ficou resolvido que iriam ambos ao prodigioso Li-
Nanda, o homem que conhecia os 1.003 segredos da alta magia e todas as
bruxarias e sortilégios.
Tomou Dan-Diak o gato cinzento nos braços e, seguido de sua obstinada
esposa, dirigiu-se ao khan^4 em que se achava alojado o feiticeiro.
No caminho, pouco antes do mercado, Mai-lá-id teve sua atenção
despertada por sete crianças, no meio do campo, à sombra de várias acácias
vermelhas, brincando com sete ovelhas pretas. Com um arzinho de
jovialidade, chamou, para o caso, a atenção de seu marido, numa fatuidade
infantil:
— Olha, Dan! Que coisa interessante! Sete crianças, saltando e correndo
no meio de sete ovelhas pretas. E sete são também as acácias floridas. O sete
é um número da sorte.
O abelheiro, caminhando de cabeça baixa, alheio às preocupações
numéricas (sete crianças, sete ovelhas, sete acácias floridas), sacudiu os
ombros num gesto de impaciência. Que interesse, para a vida, poderia ele,
um apicultor, encontrar ou imaginar em tudo aquilo?
Li-Nanda, o mágico, já terminara os seus preparativos e estava pronto
para partir, isto é, para deixar a cidade, quando viu surgir, na porta do khan , o
casal para ele desconhecido.
— Que desejam? — perguntou com acentuada brusquidão, fixando sua
atenção no gato cinzento, de pelo longo e macio, que o homem transportava
no colo.
Cabia ao cambojano das abelhas a vez de falar. E disse, com hesitações
que alongavam as palavras e perturbavam a voz:
— Chamo-me Dan-Diak e não passo de um humilde criador de abelhas.
Esta boa camponesa que se encontra a meu lado é Mai-lá-id, minha esposa.