O estratagema de Takla
Conta primeiro os teus inimigos e poderás calcular, depois, as tuas inquietações.
Al-Harini (1054-1122)
Corria o terceiro mês do ano de 698. Na velha cidade de Damasco vivia,
nesse tempo, um homem de meia-idade, de ar retraído e modesto, que se
chamava Mosab Ali Hosbã. A vida de Mosab, acorrentada à pobreza e à
vulgaridade, retalhada pelos desenganos, muito longe estava de ser
considerada feliz. Quando moço, em Medina (sua cidade natal), exercera a
árdua profissão de falcoeiro e fizera-se muito destro na falcoaria.
Três vezes viajara pelo Iraque, e tendo ido, em caravana de peregrinos,
até a Pérsia, a convite de um príncipe caçador, aprendera contas, cálculos,
geometria e todos os estranhos segredos da astrologia, com dois sábios
sacerdotes de Khorassã. Em consequência de uma queda desastrada (durante
uma caçada no Iêmen), o falcoeiro Mosab ficou capenga. Impossibilitado de
continuar em trabalhos de falcoaria, vendeu sua rica falcoada e mudou-se
para Damasco, altamente prestigiada em todo o Oriente por ser a capital do
califado . Sob o céu damasceno conheceu Mosab a jovem Takla, filha de
Mekoul (o escriba), com a qual se casou. A profissão adotada por Mosab, em
Damasco, não era das mais rendosas. Impelido por gênio simplório e