inimigos rancorosos, muitos dos quais tentaram, por todos os meios e com
todas as armas, arruiná-lo, vencê-lo e matá-lo! Mais ainda: Alá, que é Único,
Onipotente, Misericordioso, também não está isento de inimigos. Que são
os ateus e os hereges, senão inimigos irreconciliáveis de Deus?
Não sabia Mosab disfarçar o desapontamento que o esmagava. Sentia-se
perdido, aniquilado, naquela tempestade de objeções.
Vendo-o triste e sucumbido, resolveu o rei, num gesto magnânimo, abrir
a porta para novas esperanças. E disse-lhe:
— Não desisto, apesar de tudo, da ideia de aproveitar a cooperação de
meu caro Mosab, de Medina, e por isso vou fazer, ao ilustre geômetra,
especial concessão: dentro de 24 horas terás de arranjar, no mínimo, sete
inimigos damascenos. Inimigos de verdade. Pessoas desejosas da tua
desgraça. Espero-te amanhã, neste mesmo divã, depois da terceira prece.
Habilita-te com sete inimigos e volta. Serás nomeado grão-vizir! Palavra de
rei!
Ao retornar do palácio de Abd al-Malik, capengando pelas ruas estreitas e
tortuosas de Damasco, sentia-se o bom Mosab confuso, estonteado, como
um ébrio. Estivera a dois passos da glória, da riqueza, e tudo parecia fugir
diante de seus olhos! Perdia aquela oportunidade rara, raríssima, de ser o
grão-vizir de Damasco! E isso por quê? Porque era um homem simples,
pacato, inofensivo, sem inimigos!
O califa exigira dele sete inimigos! Como fazer, em poucas horas, sete
inimigos, ele, que em quarenta e cinco anos de vida, pelo Iraque e pela
Pérsia, adestrando falcões pelo deserto, formulando horóscopos, não fizera
nenhum?
Ao cruzar a rua dos Tecelões, ao lado da loja de Simão Mureb, avistou
Mosab um velho aguadeiro, magro, esfarrapado, que puxava pela rédea de
um burrinho. O homem repetia com voz dolente: “Água! Água fresca! Água
da fonte!” Estranho pensamento assaltou o talebe. Para iniciar a conta dos
sete (refletiu) vou agredir aquele miserável aguadeiro. Será fácil segurá-lo
pelo ganzuz;^10 com dois ou três socos atiro-o no chão, espanto o burrinho,
derramo a água... Arrependeu-se logo dessa ideia. A agressão seria, além de
estúpida, covarde. Que culpa tinha o aguadeiro do fracasso de sua vida?