— Mac’ Allah! — protestou com veemência o rei. — Não acredito em
semelhante coisa! Não posso admitir que um homem, seja ele um emir ou
simples caravaneiro, viva noventa anos e mais sete anos sem causar a seus
semelhantes infinitas contrariedades! Ah! isso não! Deyman! Abadan! Em
tempo algum!
O velho, que ouvira com invejável serenidade as imprecações do
monarca, tornou com seu tranquilo falar:
— As objeções que acabais de formular, ó rei, colocam-me, neste
momento, em sérias dificuldades. Devo aceitar as vossas objeções? Cumpre-
me recusá-las? Não posso, é evidente, concordar com a vossa opinião, pois
isso implicaria confessar que já contrariei alguém. Não quero, porém,
contrariar-vos, para não ferir um preceito para mim inviolável!
E, depois de ligeira pausa de vergonhoso embaraço, rematou num gesto
burlesco de credulidade:
— Mas, afinal, admito que a razão esteja de vosso lado. Não se pode
viver, neste mundo de dúvidas e incertezas, noventa anos e mais sete anos
sem contrariar centenas de crentes e milhares de infiéis!
— Ó homem admirável! — exultou o rei, com alvoroço. — Os grandes
tesouros dos velhos são a prudência e o saber! Preferistes passar por
mentiroso a causar uma leve contrariedade àquele que negava o vosso
preceito. Com um gênio assim, chegareis, se Alá quiser, aos 197 anos...