Para Adriano Moreira, esse é o tempo dos homens que fugiram «das vacas
magras» e andam «pelos postos da nova viradeira, a lavar as mãos do passado
com o ar de nada terem a ver com as dificuldades do presente». Segundo o ex-
ministro do Ultramar, viver-se-ão, a partir daí, os tempos de reinação dos
homens que foram obtendo «proveitos dos tempos das vacas gordas», além de
concessões, empregos, facilidades. «A corrupção da alegria», no seu esplendor.
Exonerado, Salazar sujeitara-se a ficar sem salário e desamparado
financeiramente numa altura em que as despesas hospitalares subiam em flecha
por causa da sua doença. Mas o novo Governo, não podendo legislar um fato
pronto-a-vestir para a figura, desenrasca uma solução, aprovando um diploma
que salvaguarda o passado... e o futuro: dez anos de governo exercidos sem
interrupção passam a dar direito a um vencimento vitalício, que não pode ser
acumulável com outro.
O Estado assume ainda a responsabilidade pelo internamento hospitalar de
Salazar, honorários clínicos e demais gastos médicos, despesas, que à época,
atingiram os 5,6 milhões de escudos, um valor que hoje seria superior a 1,5
milhões de euros.
António de Oliveira Salazar vivera os meses após o AVC sem noção de coisa
alguma, prostrado na mesma cama do quarto 68, na clínica da Cruz Vermelha,
sacudido por altos e baixos.
Após o coma, sofrera várias complicações graves: alterações metabólicas,
insuficiência renal, outras de natureza cardiovascular.
Nem sequer percebera a sua substituição por Marcello Caetano que, numa
visita à casa de saúde e já investido nas novas funções, desafiara os serviços, de
forma seráfica, a passarem para segundo plano os cuidados e atenções com o
seu antecessor: «Não sacrifiquem os serviços hospitalares a que pertencem os
médicos auxiliares, que aqui fazem os turnos, na vigilância de complicações
súbitas, quando o doente vai morrer, em prejuízo dos doentes de urgência que
podem aparecer nos serviços hospitalares e que é preciso salvar», dirá o novo
Presidente do Conselho.
Salazar vive o ocaso da vida, um lusco-fusco de realidade.
Tem a existência suspensa por fios, tubos, máquinas, cuidados.
Mas não perde o sentido de humor. «Não vai conseguir nada, eu tenho a
língua curta!», reage, quando o otorrinolaringologista lhe faz um exame à
laringe. Por vezes, dá sinais de melhoras, comenta-se que poderá até recuperar
para lá das expectativas.
Enquanto isso, Eduardo Coelho e Vasconcelos Marques quase chegam a vias
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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