A última criada de Salazar

(Carla ScalaEjcveS) #1
espírito «dona  de  casa» nunca se  perdeu.

Salazar decide o nível do terraço, a porta para a estrada e a escadaria para o
pátio.
Troca a cozinha e a sala de jantar de lugar.
Pede cuidados com a chaminé da cozinha, manda incorporar corredores,
passagens de divisões, despensas, escadas para o sótão e até um «pequeno
quarto escuro», reservado «para grandes armários de arrumação de louças e
vidros».
Decide a localização do quarto de roupas e de costura, impõe a
transformação da casa de banho, faz desaparecer uma varanda, manda alargar
os quartos e envidraçar as portas para o terraço.
Às suas ordens, são substituídas, modificadas ou alinhadas paredes. Impede
que o quarto de hóspedes fique dependente da sala de visitas e obriga a que
uma das divisões seja «um quarto de criadas».
Noutras folhas, redige a lista dos móveis e objetos da habitação e mais umas
quantas «recomendações» a quem tem por dever velar pela sua manutenção:
Salazar quer a casa «limpa e bem arrumada», sublinha que não se pode «pregar
nem colocar nada nas paredes», pede um esforço para «não deixar defumar a
casa, servindo-se da lareira», sugere que se coloquem «cortinas, ao menos nas
janelas da frente» e recomenda «não despejar na casa de banho as águas da
cozinha».
Há ainda uma lista de ordens para «o João Carpinteiro» e indicações sobre a
instalação do sistema elétrico na «Casa das Ladeiras», para a qual recomenda
lâmpadas de 40 watts para «a sala de entrada e a cozinha», devendo as outras
divisões não ultrapassar lâmpadas de 25 watts.
Nas obras, emprega operários da terra, homens que dividem os dias entre a
sacha dos campos e o trabalho de pedreiros ao serviço do «senhor doutor».
Dessa época se guardará na casa uma ampulheta e uma balança, objetos que
ajudam a compor o perfil do proprietário.

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