Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

incluída nas poucas favorecidas. Tinha também de admitir que Tunbridge Wells era um local
encantador para visitar, por comparação com a poeira e o lodo de Londres, sobretudo no verão,
e todos se sentiam gratos por ir para ali, tal como o rei.
Ali, os grandes privavam com os não tão grandes, todos arrendando pequenas casas ao longo
da estrada de uma milha que conduzia às termas. O ambiente era mais o de uma aldeia do que de
uma cidade, ainda que oferecesse todas as comodidades comerciais e sociais que a corte tanto
apreciava.
Havia um longo caminho, à sombra de castanheiros de copas largas, sob as quais a
companhia se reunia todas as manhãs e passeava, a conversar, enquanto bebia daquelas águas.
De um dos lados do caminho havia uma longa fileira de lojas que vendiam brinquedos, rendas,
luvas, meias e todos os pormenores requeridos pelas pessoas elegantes. Do outro lado, havia
um mercado onde raparigas do campo, com os seus rostos sadios e chapéus de palha, vendiam
carne de caça, peixe, vegetais, flores e fruta. Ali o entretenimento era que cada casa adquiria o
que precisava e cada dama desfrutava da novidade de fazer as suas próprias compras!
Ao final da tarde, todos abandonavam o pequeno palácio para se reunirem nos relvados,
onde, sob as estrelas, podiam dançar ao ar livre numa relva mais suave e macia do que qualquer
carpete do mundo. Também havia o que caçar e muitas intrigas para manter os coscuvilheiros
ocupados.
O rei, como é óbvio, não ficou numa casa arrendada, mas no encantador paço de Summer
Hill, propriedade de Lorde Muskerry e da sua esposa, que estava prestes a dar à luz – um facto
que não a impediu de participar em todas as maravilhas que Tunbridge Wells oferecia: os bailes
e demais diversões, caçadas, falcoaria e até caça à lebre com galgos.
Para seu grande embaraço, de todas as beldades da corte só Mistress Stuart teve a honra de
ser convidada para Summer Hill, o que enfureceu de tal forma Barbara Castlemaine que esta
chegou com um ar muito ressentido e escandalizou até os cortesãos de moralidade mais laxa,
passeando-se com os bastardos reais – tão parecidos com o rei, de cabelos negros e olhos
brilhantes, que só podiam ser farinha do mesmo saco – para cima e para baixo pelo caminho dos
castanheiros.
Certa manhã, Frances acompanhava a rainha na sua carruagem e passaram por Barbara que,
com os filhos, se encontrava embrenhada numa conversa com Lady Muskerry, cujo corpo pesado
revelava o seu avançado estado da gravidez. A rainha apressou-se a desviar o olhar, mas
Frances ainda lhe viu o refulgir de uma lágrima, perante uma imagem tão vívida da fecundidade.
Enquanto Lady Muskerry se despedia de Barbara, passaram por lorde Rochester e lorde
Buckhurst, que se passeavam na direção contrária.



  • Pelo menos haverá um catraio que não se parecerá com Sua Majestade, disse Rochester,
    num sussurro bem audível.

  • Então será o único – respondeu Charles Buckhurst, e ambos se riram muito.
    Frances esperou que os alegres cavalheiros tivessem passado e depois perguntou à rainha se
    lhe dava licença para se apear e ir comprar rendas.

  • Com certeza. Esperá-la-ei nos relvados – disse a rainha Catarina com o seu doce sorriso.

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