encontrá-la em parte alguma. Sua Majestade tornou-se muito exigente nos últimos tempos.
Deseja um traje novo quatro vezes por dia e nenhuma de nós pode ajudá-la a mudar de roupa.
Quase bateu o pé por a senhora não estar presente para lhe calçar as luvas lilás e gritou com o
pajem quando ele lhe apertou o sapato.
Entreolharam-se, ao darem-se conta do que aquilo poderia significar.
- Crê que é possível que esteja de esperanças?
- O rei seria o homem mais feliz da nação se ela estivesse.
- E a Lady a mulher mais irritada.
Sorriram. - Esperemos que esteja.
Tinham apenas começado a cear quando Mall se juntou à mesa das damas de companhia, com
um ar invulgarmente enervado. - Deixe-me adivinhar – sussurrou Frances enquanto lhe passava uma travessa de enguias-
prateadas. – O rei descobriu o duelo louco e exige vê-la. - Pior! – Mall estremeceu ao olhar para as enguias e passou-as a outra dama. – A mãe do
Tom vem fazer-me uma visita para me observar. E que dia escolheu ela? O do meu confronto
com Lady Shrewbury. - Excelente – alegrou-se Frances. – Nesse caso, terá de cancelar. E sem beliscar a honra.
- É por causa da honra que não posso cancelar. – A voz de Mall subia de tom, com a raiva e
o desprezo que sentia por Anna Maria. As damas e os cavalheiros em redor tinham começado a
virar-se para escutar. – Lady Shrewsbury é do género de mulher que permite que homens
morram por ela e depois se ri disso. Desejo que ela saiba o que se sente quando se enfrenta um
oponente a sós, com uma espada na mão e temendo pela própria vida.
Frances baixou o tom de voz. - E se a morte acabar por ser a sua? Ou se a ferir e o escândalo for tão grande que ambas
fiquem arruinadas? O que pensarão o Tom e a mãe dele de si, então?
Mall riu-se. - Frances, sempre sensata. Nunca poderia ser um paladino!
- É o meu sangue escocês – reconheceu Frances. – Estou fadada a ser prática. – Levou a mão
à manga da amiga. – A dama não vale esse risco. - Agora é demasiado tarde. Só Deus poderá impedir-nos.
Contudo, o sensato sangue escocês não corria debalde nas veias de Frances. E ela não
tencionava deixar a questão nas mãos imprevisíveis do Todo-Poderoso.
Todos os outros foram para os aposentos da rainha depois da ceia, jogar às cartas e ouvir uns
músicos novos que tinham chegado de França. Mas Frances sentia-se demasiado cansada e, para
além disso, tinha outras coisas em que pensar.
A caminho do seu quarto, passou por um casal que se abraçava numa alcova perto da galeria
atapetada. Hesitou, pois não desejava perturbá-lo; o homem saiu da penumbra e, por um
momento, foi iluminado pela tocha que ardia num nicho. Era jovem, elegante e risonho, com
cabelo arruivado, e logo o seu coração se apertou, pois, embora se tratasse de um estranho,