Capítulo 16
Frances não se mostrava intimidada, mas nunca vira o rei tão furioso como naquele momento
diante deles, vestido dos pés à cabeça de veludo azul-escuro, com folhos rendados no pescoço e
um fulgor assassino no olhar.
O rei aprendera muitas coisas durante o seu longo exílio, quando dependera do auxílio e do
sacrifício de outros: paciência, tolerância, generosidade e o desejo de espremer a vida até obter
a última gota de prazer. Também desenvolvera um instinto de sobrevivência e a ocultar os seus
verdadeiros sentimentos quando tal servia os seus interesses ou os do país.
Porém, naquela ocasião não os ocultava. Os seus olhos negros ardiam com ressentimento e o
seu corpo alto vibrava com raiva. Tinha o ar de violência contida que poderia ver-se num
pugilista.
Frances inclinou-se numa reverência.
- Vossa Majestade.
O rei arrancou-lhe a miniatura que ela ainda ocultava atrás das costas e examinou-a. - Um belo objeto. Embora retratar-se como a casta caçadora Diana pareça algo falso,
senhora.
Frances ergueu o queixo numa atitude desafiante. - É tão genuíno como sempre foi.
- Folgo em ouvi-lo. Não gostaria de ver outro a ser presenteado com o favor que há tanto
anseio receber de si.
Virou-se para o duque. - E quanto a si, senhor, negligencia os seus deveres como gentil-homem da câmara e, pior,
como lord-lieutenant de Dorsetshire. Não saberá que a guerra com os Holandeses se aproxima?
Os seus deveres requerem que patrulhe a costa em busca de infrações, não que se passeie por
Londres com as aias da minha esposa. – Acercou-se mais do duque. Eram quase da mesma
altura, embora o rosto do rei fosse esguio e severo, enquanto o do duque conservava ainda o
rubor da juventude. – Sugiro-lhe que parta agora.
Por um instante, o duque permaneceu imóvel; depois, ciente de que seria inútil resistir, fez
uma vénia.
Todavia, antes que pudesse retirar-se, a duquesa entrou na sala com um porte grandioso,