Maeve Haran - A Dama do Retrato PT (2013)

(Carla ScalaEjcveS) #1

  • Quanto tempo estive doente – perguntou Mary com receio –, e com que enfermidade?
    Frances e a ama entreolharam-se, concluindo que seria melhor que ela não soubesse a terrível
    verdade.

  • Teve febre maculosa, tal como a rainha quando correu aquele grave perigo, mas o pior já
    passou. Está enfraquecida e perdeu muito peso. Terá de ficar sentada, repousar e engordar como
    uma cabaça a amadurecer ao sol. Está na altura de ir para casa, em Cobham, e aproveitar os
    encantos da vida no campo.

  • Encantos! A minha mãe é tão mesquinha que me dará apenas meia-ração e despedirá alguma
    pobre criada, já que poderá servir-se de mim para trabalhar.

  • Não, com a presença da ama, não o fará. Vou pedir à ama que a acompanhe durante a sua
    convalescença. Será bem capaz de lidar com a sua mãe, acredite em mim.
    E foi assim que Mary Lewis, ainda que com relutância, retornou a casa onde ficaria sob a asa
    protetora da ama até se encontrar completamente restabelecida, tendo conseguido a promessa –
    concedida com alguma renitência, por razões que Frances não admitiria – de que Frances iria a
    Cobham assim que a rainha pudesse dispensá-la.
    Frances entregou também uma carta a Mary dirigida ao duque, na qual lhe pedia se poderia ir
    a Londres e indagar o paradeiro do seu irmão Walter.
    Apesar de julgar que o seu segredo continuava bem guardado, a ama sabia exatamente porque
    se mostrava ela tão relutante em visitar Mary em Cobham Hall.

  • Não tenha receios, menina – sussurrou-lhe antes de partir com Mary. – Cada homem, ou
    mulher, é o arquiteto do seu próprio destino. Tem resistido ao rei porque deseja outra vida. E,
    um dia, tê-la-á, seja Deus minha testemunha.
    Frances sorriu à velha senhora.

  • Então desejo que Deus se apresse a fornecer-ma. O rei, quando a tal se determina, é uma
    força à qual é difícil resistir.
    As suas palavras, como viria a revelar-se, eram proféticas. Sua Majestade, tendo sentido a
    sua falta durante tanto tempo, redobrou as tentativas de a conquistar.
    Apesar da guerra e da peste, a corte mostrava-se animada como sempre em Hampton Court. O
    parlamento poderia ter sido prorrogado até setembro devido ao medo da peste, mas, em
    Hampton Court, com os seus passeios, canteiros e fontes encantadores, os relvados verdes entre
    uma profusão de rosas de junho, continuava a haver bailes de máscaras, música e piqueniques.
    A morte súbita de um dos guardas do rei, vítima da peste, lembrou aos mais folgazões que
    Londres não estava assim tão longe, pelo que se mudaram – em liteiras, carruagens e
    cadeirinhas – para Salisbury, onde Frances descobriu que, de todas as aias da rainha, fora ela a
    escolhida para se hospedar nos alojamentos dos reis.

  • Pelo menos Mister Chiffinch não está aqui para piscar o olho e avisar o rei assim que a
    senhora se deitar – sussurrou Cary Frazier.
    Contudo, Salisbury não ia ao encontro do gosto dos monarcas. Era fustigado por grandes
    ventos e correntes de água inundavam a rua principal, o que os obrigava a ficar dentro de
    portas, deixando o rei irrequieto e melancólico.

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