- Ele diz que a senhora se vangloria de algo que não poderá saber. – Ela encolheu os ombros.
- Como obteve um conhecimento tão íntimo da enfermidade?
- Cuidei de uma jovem amiga. Quis Deus que sobrevivesse.
Uma expressão de horror apoderou-se do rei. - Com a peste? Belle! Poderia ter-se contagiado e perecido.
- Sim. Mas a pessoa de quem cuidei era jovem e importante para mim, e a sua própria mãe
não queria saber dela. Sem ajuda, era possível que não sobrevivesse. Para além disso... –
Levantou-se e, com os seus sapatos vermelhos de tacão, os seus olhos ficavam quase ao mesmo
nível dos de Sua Majestade, o que ela calculava que fosse uma experiência rara para alguém
com um metro e oitenta de altura. – Não tenho marido nem filhos, nem isso é provável, já que
ninguém se atreve a cortejar-me. - Está a culpar-me por isso?
- Quem mais poderia culpar? Quem se atreveria a enfurecer o rei fazendo uma proposta
honesta à mulher que ele persegue? – perguntou num tom zangado. - Amo-a, Frances Stuart, o que me faz perder a cabeça.
Antes que ela se apercebesse do que estava a acontecer, deu por si a ser atirada para cima da
grande cama da rainha.
Sentiu o hálito quente do rei no seu pescoço e os dedos dele a rasgarem-lhe as rendas do
vestido. - Bem, mas que bela visão – troçou uma voz ríspida atrás deles. Viraram-se e depararam-se
com Barbara, cuja gravidez crescente apenas acicatava a sua fúria. – Num momento Mistress
Stuart é um anjo do Senhor que pousa as mãos curativas nos doentes, no seguinte está a
experimentar as delícias da tentação e, de onde me encontro, oferecendo pouca resistência. - Rameira sem vergonha! – insultou-a o rei, com os olhos a brilhar com uma raiva fria. – Se
caísse ao chão e a Bondade a ajudasse, roubar-lhe-ia a bolsa e ainda a acusaria de devassidão.
Saia, mulher, e deixe-nos a sós. - Não o farei! – Barbara manteve-se firme. – Está na altura de perceber que essa Senhora
Inocente o trairia num abrir e fechar de olhos se um cavalheiro de posses lhe fizesse uma
proposta. Ela aceita os seus abraços, mas eles causam-lhe asco. Diga-me, Majestade, como é
possível que seja o único a não o ver?
Frances deu-se conta da mágoa nos olhos do rei, quis gritar que ele não a repugnava – na
verdade, gostava muito dele, mas nunca poderia amá-lo como ele desejava. Seria melhor deixá-
lo pensar que Barbara estava correta nas suas suposições.
Por um momento, julgou que o monarca seria capaz de bater em Lady Castlemaine.
Todavia, antes que ele pudesse fazê-lo, Barbara abriu o manto para revelar a grande barriga
que tentava disfarçar sob camadas de cetim azul. Ele recolheu a mão. Não era do género de
homem que batesse numa mulher, sobretudo se estivesse de esperanças, quer o filho fosse seu,
quer não. - Deixe-nos – gritou. – Mulher insolente! Vá!
Entretanto, o barulho já atraíra a rainha e as suas criadas, que chegavam a correr.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1