Apocalipse, recordando à congregação que o número da Besta era o 666 e que, dado correr o
ano de 1666, todos tinham esperado uma terrível catástrofe.
- As pessoas temiam que, no ano do Senhor de 1666, houvesse peste, guerra e fogo –
ribombava o pastor, com toda a paixão de um Solomon Eagle. – E já fomos visitados pelas duas
primeiras: a peste e a guerra! Quanto tempo faltará para que esta pecaminosa corte seja visitada
pelo terceiro castigo?
O pastor olhava para os cortesãos reunidos com uma expressão acusadora, não evitando
sequer o próprio monarca. - Tolo! – murmurou o rei para o conde de Clarendon, sentado a seu lado. – O que tomou
possessão do homem para estar com esta conversa sobre outra catástrofe? Ninguém lhe disse
que, quanto mais se mexe, pior cheira? Não acabamos de recuperar da peste, para ele agora vir
falar de coisas piores prestes a acontecer? Ora!
Um burburinho ao fundo da igreja fê-lo olhar de relance para trás. Um gentil-homem da
câmara aproximou-se com uma mensagem de Mister Pepys, do Conselho Naval, o qual
precisava de falar urgentemente com Sua Majestade.
Contente por poder escapar ao sermão mal assisado, o rei levantou-se e saiu a passos largos. - Obrigado, Mister Pepys. – Apertou a mão do responsável pela Marinha, que envergava o
seu melhor traje domingueiro, com um manto de cetim e um lenço de seda branca, embora
tivesse o rosto muito vermelho por ter vindo a correr debaixo do calor que, mesmo em
setembro, continuava a fazer-se sentir. – Poupou-me a um sermão cansativo. O sacerdote jurava
por Deus que, apesar de termos sofrido a guerra e a peste, somos tão pecadores que ainda
poderemos ser visitados pelo fogo!
Mister Pepys ficou com um ar assombrado, como se tivesse visto um fantasma. - Mas é verdade, Vossa Majestade. Foi isso que vim dizer-lhe. Deflagrou um grande incêndio
na cidade, muito perto de Thames Street. No estabelecimento de um fornecedor da Marinha. O
mayor não está a dar-lhe a devida atenção. Diz que uma mulher podia apagá-lo se lhe urinasse
em cima, mas eu vi-o com os meus próprios olhos, e grassa pela cidade como um fósforo numa
caixa de madeira. - Um incêndio! Agora é que já temos tudo. Dê ordens ao Bludworth para que derribe todas as
casas no caminho do fogo. Temos de o travar antes que as chamas ganhem terreno. A cidade já
está de rastos.
Enquanto Mister Pepys se apressava a ir cumprir as ordens, o rei chamou o irmão, o duque de
York, e ambos partiram para examinarem em conjunto a extensão do desastre.
O rumor de que um fogo havia deflagrado correu a voz entre a assembleia de fiéis, quase tão
lestamente como as próprias chamas. Grupos de cortesãos preocupados reuniram-se ao fundo da
igreja, todos receosos pelas suas casas, pelas dos familiares e pelos bens preciosos que
preservavam ali e acolá, querendo saber até onde chegavam as labaredas. - Não fiquem ansiosos. O fogo está contido pelas muralhas da cidade – anunciou a condessa
de Suffolk num tom ríspido. – Temos uma casa junto ao rio e o meu marido enviou-me um
recado, dizendo que o incêndio não tardará a ser extinto. Agora há aqueles novos veículos de