Ao chegar pelo rio ao Portão dos Traidores, Frances sentiu um calafrio de apreensão.
Quantas pessoas haviam entrado naquelas muralhas, de Thomas More à rainha Isabel, passando
pela triste Lady Jane Grey, perguntando-se se alguma vez tornariam a sair? Os seus pensamentos
voaram até ao duque de Richmond, ali confinado pelos sentimentos que nutria por si e que o rei
não perdoava.
A Real Casa da Moeda ficava numa estrutura longa e estreita que ocupava três lados dos
complexo perto da poterna, junto a Little Tower Hill.
E que mulher não se encantaria ao descobrir que o gravador principal da Casa da Moeda, Jan
Roettier, um homem bem-apessoado de trinta e cinco anos, ficava embevecido por si à primeira
vista? Sobretudo depois de perceber que ela era uma jovem que de facto se interessava pelo
processo da cunhagem de moedas e medalhas.
Ele mostrou-lhe reverentemente as novas prensas de parafuso e os laminadores, que só
recentemente haviam substituído o antigo processo de fazer moedas marteladas.
- Agora conseguimos fazer trinta moedas por minuto! – informou-a Roettier, muito
entusiasmado. - E quantas faziam antes? – perguntou Frances, observando um trabalhador sentado junto à
base da máquina a tirar moedas da prensa e a inserir novos discos em branco. - Menos de metade. Imagine, talvez um dia seja o seu rosto a ser estampado nas moedas de
Inglaterra!
Frances riu-se. - Aparecer na medalha do rei já me deixa satisfeita.
- Primeiro terei de pintar o seu rosto. – Tinham chegado a uma pequena divisão na
extremidade do edifício que se encontrava mais próxima do rio, onde a luz era boa. Apontou
para um painel. – Se vestisse o camiseiro que está pendurado ali atrás, ficaria muito agradecido.
Frances engoliu em seco ao ver que o camiseiro era muito fino. Vestiu-o, e os contornos do
seu corpo ficaram delineados e, à luz fria daquela tarde de inverno, sentiu os mamilos
enrijecerem, deixando-a envergonhada.
Quando finalmente saiu de trás do painel, descobriu que tinha sido colocado um banco diante
doutro painel, todo branco, o que lhe dava a sensação de ser um alvo num campo de tiro.
Percebendo o desconforto dela, Jan Roettier estendeu-lhe uma mão e levou-a até ao banco
como se dançassem um courante. Então ela instalou-se, grata por ter a altura suficiente para
chegar com as sandálias ao chão, em vez de se ver obrigada a ficar ali sentada com as pernas a
abanar como um pardalito gordo num poleiro. Roettier contemplou-a em silêncio, após o que se
aproximou e ajeitou o camiseiro para lhe expor o ombro esquerdo. - Mistress Stuart, tenho uma longa experiência de fazer reproduções e sei apreciar algo raro e
belo quando o vejo. Acredite em mim, isso não acontece com frequência. - Nesse caso, espero que seja bem-sucedido a reproduzir a minha raridade e beleza para a
medalha do rei – respondeu ela a rir-se; Roettier começava a rir também quando a porta se
abriu e um pequeno cão entrou, seguido de imediato pelo seu dono, Sua Majestade Real, o rei
Carlos II.