- E que homem é esse? – perguntou ele com amargura. – Um homem de que outros se riem e
desdenham. - Só os que preferem as imitações ao ouro.
- Mas eu não vejo o ouro que encontra no duque de Richmond. – Puxou-a com brusquidão
encostando-a ao brocado rígido das suas vestes reais. – O que pode ele dar-lhe que eu não
possa? - Uma vida comum. – Fitou-o nos olhos, com franqueza e honestidade nos seus, já que de
nada valeria fingir. – Ambos sabemos o que é não ter uma casa nossa. Anseio por olhar pelas
janelas e ver um parque verdejante, gerir uma casa, ter crianças à minha volta, preparar
remédios na minha destilaria... - É demasiado singular para essas coisas! – Virou-lhe costas, zangado. – Qualquer mulher de
um campónio pode cozinhar e destilar. Ofereci-lhe o que nunca ofereci a mulher alguma. Ainda
poderia divorciar-me da rainha... - Mas eu nunca quereria ocupar o lugar dela. Majestade, imploro-lhe, permita-me que deixe a
corte e viva honradamente. - Honra! – cuspiu a palavra como se fosse uma blasfémia. – É por isso que guarda a sua
virgindade com as pontas afiadas de uma gélida virtude? Para preservar a sua preciosa honra? - A honra nada tem a ver com a virgindade, Majestade. Poderia oferecê-la cem vezes e
continuar a ter a honra intacta. Ter honra é viver a vida de acordo com os princípios de cada um.
É por isso que o senhor escolhe ser tolerante quando seria mais simples ser mesquinho; que tem,
à sua maneira, sido leal à rainha, quando muitos quereriam que a descartasse. - Diz que essas coisas me fazem ser honrado. Haveria quem dissesse que me fazem tolo.
- Não é tolo algum, Majestade, e nunca será recordado assim.
Em silêncio, ele fitou o rio escuro, iluminado somente pelas luzes dos botes que continuavam
a atravessá-lo mesmo àquela hora. - Tenho-a amado ao ponto da loucura, Frances Stuart... – A voz falhou-lhe, tal era a tristeza
que sentia, e ela julgou que então ele a libertaria. Mas enganava-se. O rei voltou-se e encarou-a,
com uma expressão impassível. – E, por esse motivo, quero assegurar-me de que terá tudo
aquilo de que precisa. Não me parece que o duque de Richmond tenha os fundos necessários.
Incumbirei o chanceler Clarendon de analisar essa questão e me informar.
O sabor amargo do desespero subiu-lhe à boca. Tratava-se de uma tática para adiar a
decisão. Sabendo que seria politicamente desavisado recusar desde já o enlace, o rei estava a
colocar novos obstáculos no caminho dela, para a impedir de casar.
Frances fez uma vénia. - Pode retirar-se.
Ao virar-se, ouviu o roçagar de seda e sentiu um perfume penetrante que logo invadiu o
quarto. Barbara Castlemaine, rudimentarmente vestida, pretendia reafirmar o seu domínio.
Ao olhar para trás, viu Barbara a desapertar as fitas do camiseiro e percebeu as palavras que,
vindas dela, não eram de amor mas de interesse próprio. - É um erro escolher o Clarendon. Ele quererá que ela case com o duque de Richmond, para
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1