Frances levantou-se muito depressa, esquecendo a dor de cabeça e até a quem se dirigia.
- Porque não haveria de receber o duque de Richmond, que ao menos me apresenta uma
proposta honesta?
Por um instante, julgou que o rei lhe bateria. Em vez disso, ele concentrou a sua fúria no
duque. - Poderia voltar a atirá-lo para a Torre por isto! E não apenas durante três breves semanas.
Olhou para junto da janela à qual eles tinham estado pouco antes, por onde o luar entrava, e
uma espécie de loucura fria apoderou-se dele. Avançou como se quisesse agarrar o duque pelo
colarinho, correr em direção à janela aberta e atirá-lo ao Tamisa. - Majestade! Pare! – Frances apelou a toda a dignidade de que era capaz. – Ele é seu súbdito.
Não pode ripostar.
A expressão de cão raivoso abandonou os olhos do rei, que soltou o duque. - Vai-te embora! – implorou ela.
- Não posso deixar-te nestas circunstâncias.
Frances abanou a cabeça. - Não corro perigo aqui. Será melhor para ambos se partires. Amanhã envio-te uma
mensagem.
Ele reconheceu a lógica do argumento dela, mas a rigidez com que se afastou revelavam a
extrema relutância com que o fazia.
O rei mantinha-se junto à janela, imóvel como uma estátua. - Se não fosse a posição que ocupo, tê-lo-ia atirado ao rio.
- E ficaria com a morte de um bom homem a pesar-lhe na consciência por causa de ciúmes.
- Levou-me a isto.
- Ora, sinceramente! – Ele mostrou-se impressionado com a súbita falta de respeito dela. –
Não o levei ao que quer que fosse. Só me quer porque eu o rejeito. É como uma criança que
inveja o brinquedo de outra. - Atente a com quem está a falar.
- Sei bem com quem falo. O nosso grande rei.
Este observou-a. - Não está em si.
- Sou mais eu agora do que durante toda a minha vida. Vê a harpia que possuiria se me
levasse para a cama? Toda essa conversa de graça e inocência. Ora! Faria bem se me libertasse.
Ele agarrou-a por um pulso, apertando-o com tanta força que a magoou. - Não tenho tenções de a libertar. O duque de Richmond está doravante banido da minha
corte e todos os seus serviços são suspensos. - Majestade... – começou ela.
- Não se atreva a tentar defendê-lo.
Apesar de estar muito zangada, Frances teve de conter as lágrimas. Mulheres a revelar
fraqueza era algo que sempre comovia o rei, mas algo no seu íntimo resistia a apelar à sua
compaixão quando ansiava por lhe fazer frente.