Gabriel adormeceu em poucos minutos e, ao acordar, se viu num quarto
flamejante, iluminado pela agressiva aurora provençal. Quando chegou ao
salão de refeições, Keller já estava lá, recém-barbeado e com cara de ter
dormido bem. Eles se cumprimentaram com um meneio de cabeça, como se
fossem desconhecidos, e tomaram o café da manhã em silêncio, separados
por duas mesas. Depois, os dois voltaram para o centro antigo da cidade,
dessa vez para fazer compras rápidas. Keller comprou um casaco pesado,
um suéter escuro de lã, uma mochila e duas lonas impermeáveis, além de
água, alimentos processados e saquinhos com fecho — o suficiente para 48
horas. Em seguida, saborearam juntos um almoço generoso e Keller optou
por não tomar vinho. Ele vestiu as roupas novas enquanto Gabriel dirigia
pelas montanhas até os limites do pequeno vale com as três casas. Depois,
desapareceu num matagal, tão ágil quando um veado alerta fugindo aos
passos de um caçador. Àquela altura, o sol já estava se pondo. Gabriel ligou
para Graham Seymour em Londres mencionou um ponto de referência em
Paris e desligou. Naquela noite, Deus, em sua infinita sabedoria, achou por
bem enviar uma tempestade outonal ao Lubéron. Gabriel ficou acordado em
seu quarto de hotel, escutando a chuva bater na janela e pensando em
Keller sozinho na lama. Na manhã seguinte, tomou o café da manhã do
hotel tendo por companhia apenas os jornais e o garçom de cabelos brancos.
Então, dirigiu até Avignon e embarcou num TGV para Paris.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1