— E é por isso que eu não teria deixado você chegar perto dela.
— Isso foi há muito tempo, querido.
— Nem tanto.
— Parece que foi em outra vida. Na verdade, às vezes parece que
nunca aconteceu.
Ela fechou a porta da geladeira e deu um beijo suave em Gabriel. Sua
jaqueta de couro ainda estava fria por causa da viagem pela noite londrina,
mas os lábios estavam quentes.
— Nós ficamos o dia inteiro esperando você chegar — disse ela,
beijando-o de novo. — A Mesa de Operações finalmente mandou uma
mensagem dizendo que você tinha embarcado num voo da British Airways
de Marselha para Londres.
— Engraçado, eu não me lembro de ter mencionado meus planos de
viagem à Mesa de Operações.
— Eles ficam de olho nos seus cartões de crédito, querido... você sabe
disso. Eles tinham uma equipe da base londrina esperando em Heathrow.
Disseram que você saiu junto com Nigel Whitcombe. E depois viram você
entrando na Downing Street pelos fundos.
— Eu fiquei meio desapontado de não ter entrado pela porta da
frente, mas, dadas as circunstâncias, deve ter sido melhor.
— O que aconteceu na França?
— As coisas não saíram de acordo com os planos.
— E agora?
— O primeiro-ministro britânico está prestes a tornar alguém muito
rico.
— Quanto?
— Dez milhões de euros.
— Então o crime compensa, afinal.
— Costuma compensar. É por isso que existem tantos criminosos.
Chiara se afastou de Gabriel e despiu o casaco. Ela estava vestindo
um suéter preto justo com gola alta. Tinha prendido o cabelo para usar o
capacete. Agora, com um olhar cauteloso fixo em Gabriel, tirou vários
grampos e alfinetes, deixando as mechas caírem sobre os ombros quadrados
numa nuvem castanho— -avermelhada.
— Então acabou? — perguntou ela. — Podemos ir para casa agora?
— Não exatamente.
— Como assim?
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1