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NORTE DA FRANÇA
Gabriel tinha passado nove dias se esforçando para pintar o rosto de
Madeline em sua mente. Ela era um desenho a carvão, um nome num
arquivo impressionante, um favor para um velho amigo. E agora, enfim,
sentada à sua frente, achava-se a prisioneira por quem ele tinha torturado e
matado, posada como que para um retrato. Vestida com roupas esportivas
azul-escuras e sapatos de lona sem cadarços, estava mais magra do que na
gravação — até mesmo do que na última fotografia enviada pelos
sequestradores — e seus cabelos tinham crescido pelo menos 2 centímetros
desde o desaparecimento, penteados para trás e pendendo no centro de
suas costas. Com ossos malares proeminentes, tinha manchas escuras
semelhantes a hematomas debaixo dos olhos azul-acinzentados. Madeline
estava com as mãos cruzadas sobre o colo; seus pulsos eram puro osso e
tendão, e as unhas tinham sido roídas até o fim. Mesmo assim, conseguiu
transmitir dignidade e autoridade. Ele agora entendia por que Jeremy Fallon
tinha declarado que o destino lhe reservava um lugar no Parlamento — e
por que Jonathan Lancaster arriscara tudo por ela. De repente, Gabriel se
deu conta de que havia feito o mesmo.
— Estou aqui para resgatá-la, Madeline — respondeu ele por fim. —
Estamos no fim do jogo.
— Você queria ver se eu ainda estava viva?
Ele hesitou por um instante, então assentiu.
— Bem, eu estou viva. Pelo menos acho que estou. Às vezes não
tenho tanta certeza. Não sei as horas, que dia da semana é, nem o mês. Nem
sei onde estou.
— Eu acho que você está na França, em algum lugar ao norte.
— Você acha?
— Eu fui trazido para cá no porta-malas de um carro.
— Eu passei muito tempo num lugar desses — disse ela, empática. —
E acho que fiz uma viagem de barco de algumas horas após o meu sequestro,
mas não tenho certeza. Eles me deram uma dose de alguma coisa. Depois
disso, tudo virou um borrão.
Gabriel imaginou que a conversa estivesse sendo monitorada.
Portanto, não disse a Madeline que ela fora trazida da Córsega para o
continente a bordo de um iate pilotado por um contrabandista e