perturbação da ordem pública, apenas a baboseira de sempre sobre os
perigos enfrentados por mulheres jovens viajando em países estrangeiros.
Na sede do Partido, a assessoria de imprensa se parabenizou em particular
pela hábil manipulação do caso, enquanto a equipe política percebeu uma
leve melhoria na aprovação ao primeiro-ministro. Por trás de portas
fechadas, chamaram o fenômeno de “o efeito Madeline”.
Gradualmente, as matérias sobre o destino de Madeline saíram das
primeiras páginas e foram para as seções internas e, ao final de setembro, ela
já tinha desaparecido dos jornais. Era outono, hora de voltar ao negócio de
governar. Os desafios que a Inglaterra enfrentava eram imensos: uma
economia em recessão, a zona do euro na UTI, uma lista interminável de
males sociais não resolvidos que estavam destruindo a qualidade de vida no
Reino Unido. Pairando sobre tudo, a perspectiva de uma eleição. O
primeiro-ministro tinha dado inúmeras pistas de que haveria uma antes do
fim do ano. Ele estava ciente dos riscos políticos de voltar atrás agora.
Jonathan Lancaster estava à frente do governo britânico porque seu
antecessor havia deixado de convocar uma eleição após meses de flerte
público com a ideia. Lancaster, então líder da oposição, dissera que ele era “o
Hamlet do Número 10” — em referência ao endereço da residência do
primeiro-ministro — e a ferida mortal se abriu.
Isso tudo explicava por que Simon Hewitt, o diretor de comunicação
do primeiro-ministro, não andava dormindo bem nos últimos tempos. O
padrão de sua insônia nunca variava. Exausto pela rotina esmagadora de
trabalho, adormecia rapidamente, em geral com uma pasta de arquivos
sobre o peito, mas acordava duas ou três horas depois. Uma vez desperta,
sua mente se acelerava. Após quatro anos no governo, ele parecia incapaz
de focar nada além do negativo. Esse era o preço de ser assessor de imprensa
na Downing Street. No mundo de Simon Hewitt não havia triunfos, apenas
desastres e quase desastres. Como os terremotos, sua intensidade variava de
pequenos tremores que mal eram sentidos a convulsões sísmicas capazes de
derrubar prédios e desfazer vidas. Todos esperavam que Hewitt previsse a
calamidade vindoura e, se possível, contivesse os danos. Nos últimos
tempos, ele tinha chegado à conclusão de que seu trabalho era impossível.
Nos momentos mais sombrios, essa constatação lhe dava um pouquinho de
consolo.
Ele já fora um homem de reputação. Como colunista-chefe de
política do
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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