A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

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CAFÉ PUSHKIN, MOSCOU


Mais tarde, na hora de arrumar os arquivos e preencher os relatórios
da missão, haveria uma discussão acalorada acerca do verdadeiro
significado das palavras de Lazarev. Um lado considerou-as uma expressão
inofensiva de boa vontade, enquanto o outro viu naquela frase um aviso
claro que Gabriel, o futuro diretor, deveria reconhecer se fosse sábio. Como
sempre, foi Shamron que resolveu a controvérsia: as palavras de Lazarev
não tinham importância, pois o destino de Mikhail já estava selado no
instante em que entrara no carro.
O ambiente onde os eventos se passaram, o renomado Café Pushkin,
não poderia apresentar uma aparência mais acolhedora, especialmente
numa noite de dezembro com o ar gélido e a neve dançando no vento
siberiano. O café ficava na esquina da rua Tverskaya com o anel rodoviário,
numa imponente casa do século XVIII que dava a impressão de ter sido
importada da Itália renascentista. Diante de suas belas portas francesas,
havia três pistas de tráfego e, mais além, uma pequena praça onde, certa
vez, os soldados de Napoleão armaram suas tendas e queimaram limoeiros
para se aquecerem. Moscovitas seguiam às pressas para casa por trilhas de
cascalho e algumas mães corajosas estavam sentadas nos bancos sob a luz
dos postes, observando os filhos superagasalhados brincarem nos gramados
cobertos de neve. Entre as mulheres se achavam Mordecai, observando a
entrada do café, e Rimona, de olho nas crianças. Keller e Yossi tinham
encontrado uma vaga a menos de 50 metros do Pushkin. Yaakov e Oded,
também num Land Rover, estavam outros 50 metros atrás deles.
O jantar fora marcado para as oito horas, mas, como o trânsito estava
pior do que o normal, Lazarev e Mikhail chegaram com doze minutos de
atraso. Mordecai anotou o horário, assim como as equipes nos Land Rovers.
Gabriel também tomou nota e logo mandou uma mensagem para o Centro
de Operações — algo desnecessário, claro, pois Navot e Shamron
acompanhavam com atenção a transmissão ao vivo do telefone de Mikhail.
Foi assim que eles escutaram os passos pesados sobre o piso sem polimento na
entrada do Pushkin. E o barulho do elevador antigo que levou o falso
Avedon ao segundo andar. E os acalorados aplausos que o receberam quando
ele entrou no salão particular reservado para a sua coroação.

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