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SÃO PETERSBURGO, RÚSSIA
Gabriel decidiu que seria mais seguro ir de trem. Havia uma estação
na cidade de Okulovka e ele poderia pegar o primeiro transporte local da
manhã e chegar a São Petersburgo no começo da tarde. Ficou secretamente
feliz quando Lavon insistiu em acompanhá-lo. Gabriel precisava dos olhos
dele. E também precisava de seu russo.
Eram menos de 65 quilômetros até Okulovka, mas as estradas
terríveis e o tempo ruim alongaram a viagem para quase duas horas. Eles
deixaram o Volvo num pequeno estacionamento tomado pelo vento e foram
às pressas para a estação, uma estrutura de tijolos vermelhos recém-
construída, estranhamente parecida com uma fábrica. Os passageiros já
estavam embarcando quando Lavon conseguiu comprar duas passagens de
primeira classe de um dos bilheteiros protegidos atrás das cabines de vidro.
Eles dividiram um compartimento com duas garotas russas que
conversavam sem parar e um homem de negócios magro vestido com
elegância que não tirou os olhos do telefone sequer uma vez. Lavon passou o
tempo lendo os jornais matinais de Moscou, que não faziam nenhuma
menção a um executivo do petróleo desaparecido. Gabriel ficou olhando
através da janela coberta de gelo, contemplando os campos intermináveis
de neve, até que o oscilar do vagão começou a embalá-lo.
Ele acordou assustado quando o trem entrou chacoalhando na
estação Moskovsky, em São Petersburgo. No andar de cima, o grande saguão
abobadado estava tumultuado; pelo visto, o trem-bala vespertino para
Moscou tinha sido atrasado por uma ameaça chechena de bomba. Seguido
por Lavon, Gabriel se embrenhou na massa de crianças choronas e casais
discutindo e saiu na Praça Vosstaniya. O Obelisco da Cidade-Herói se erguia
no centro da rotatória engarrafada. Postes iluminavam toda a Nevsky
Prospekt. Eram apenas duas da tarde, mas qualquer luz do sol que tivesse
surgido já desaparecera havia muito tempo.
Gabriel caminhou pela prospekt, seguido por um vigilante Lavon.
Ele não estava mais na Rússia, pensou, mas num paraíso czarista, importado
do Ocidente e construído por camponeses aterrorizados. Florença o
chamava das fachadas dos palácios barrocos, e, atravessando o rio Moyka,