as posses restantes de Madeline de seu antigo cubículo. Não havia muita
coisa: alguns arquivos empoeirados, um calendário, canetas e clipes de
papel, um exemplar já bem gasto de Orgulho e preconceito que ela
costumava ler sempre que tinha um momento de folga. O homem entregou
os itens ao presidente do Partido, que mandou sua secretária se livrar
discretamente do material, com tanta dignidade quanto possível. E, assim,
os últimos traços de uma vida inacabada foram expurgados. Madeline Hart
enfim tinha partido. Ao menos era o que eles pensavam.
No começo, ela teve a impressão de que havia trocado um tipo de
cativeiro por outro. Dessa vez, o apartamento que servia de cela dava vista
não para o rio Neva, em São Petersburgo, mas para o mar Mediterrâneo, em
Netanya. Para a administração do prédio, ela estava se recuperando de uma
longa doença. A verdade não era muito diferente.
Madeline não saiu do apartamento por uma semana. Seus dias não
tinham nenhuma rotina discernível. Ela dormia tarde, observava o mar,
relia seus romances favoritos, tudo sob a observação da equipe de segurança
do Escritório. Um médico ia vê-la uma vez por dia. No sétimo dia, quando
ele lhe perguntou como estava, ela respondeu que sofria de tédio terminal.
— Melhor morrer de tédio do que de veneno russo — brincou o
doutor.
— Não tenho tanta certeza — respondeu, com seu inglês arrastado.
O médico prometeu que levaria o caso de seu confinamento à
autoridade mais alta. No oitavo dia, o alto escalão permitiu que Madeline
fizesse uma breve caminhada pelo trecho frio e ventoso de areia na frente
do prédio onde residia. No dia seguinte, pôde ir um pouco mais longe. E, no
décimo dia, caminhou quase até Tel Aviv antes de seus cuidadores a
colocarem com gentileza no banco traseiro de um carro do Escritório e a
levarem de volta para o apartamento. Ao entrar, encontrou uma réplica
exata de Lagoa em Montgeron pendurada na parede da sala de estar —
exata, com exceção da assinatura do artista que a pintara. Ele ligou alguns
minutos depois e se apresentou adequadamente pela primeira vez.
— O famoso Gabriel Allon? — perguntou ela.
— Receio que sim.
— E quem foi a mulher que me ajudou a subir no avião?
— Você saberá em breve.
Gabriel e Chiara chegaram em Netanya no horário de almoço do dia
seguinte, depois que Madeline voltou da caminhada matinal pela praia. Eles
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1