— Deixe para lá. É melhor comer.
Ela obedeceu. Em seguida, olhou pela janela e viu a multidão se
movendo pela Bridge Street. Como se nunca tivesse visto aquilo antes.
Como se nunca fosse ver novamente. Ele vistoriou a parte interna do café.
Ninguém a reconhecera. Por que reconheceriam? Ela estava morta e
enterrada — enterrada no terreno de uma igreja em Basildon. Uma cidade
sem alma para uma garota sem nome nem passado.
— Você não precisa fazer isso — falou Gabriel depois de um instante.
— É claro que preciso.
— Eu já tenho o suficiente sem você. Tenho o vídeo de Zhirov.
— O Kremlin pode negar Zhirov — retrucou Madeline. — Mas não
pode me negar.
Ela ainda contemplava a rua.
— Dê uma boa olhada — disse Gabriel —, porque, se você fizer o que
está pretendendo, vai demorar um bom tempo até deixarem você voltar
para Londres.
— Onde você acha que vão me colocar?
— Num esconderijo no meio do nada, talvez uma base militar, até a
tempestade passar.
— Não parece muito agradável, parece?
— Você sempre pode voltar para Israel comigo.
Ela não respondeu. Gabriel se inclinou para a frente e segurou a mão
dela, que tremia um pouco.
— Eu tenho uma casinha na Cornualha — revelou ele em voz baixa.
— A cidade não é nada de mais, mas fica junto ao mar. Você pode
permanecer lá se quiser.
— Tem vista?
— Uma vista adorável.
— Acho que eu gostaria.
Madeline deu um sorriso corajoso. Do outro lado da rua, o Big Ben
bateu quatro horas.
— Ela está atrasada — comentou Gabriel, incrédulo. — Não acredito
que ela está atrasada.
— Ela sempre está atrasada.
— Você a deixou bem impressionada, a propósito.
— Ela não foi a única.
Madeline riu, apesar das circunstâncias, e tomou um pouco do chá.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1