Rocha declararam que os pilares eram um embuste elaborado.
— Nunca houve Templo no Monte do Templo — escreveu o grande
mufti de Jerusalém numa carta aberta publicada pelo New York Times — e
nenhuma exposição ou museu vai mudar esse fato.
Apesar das violentas batalhas religiosas e políticas, a organização da
exposição progredia de forma consideravelmente rápida. Poucas semanas
após a descoberta de Gabriel, aprovaram-se os planos arquitetônicos,
angariaram-se fundos e foi iniciada a construção. Boa parte do crédito
pertencia à diretora e designer-chefe italiana. Em público, referiam-se a ela
por seu nome de solteira, Chiara Zolli. Mas todas as pessoas associadas ao
projeto sabiam que ela se chamava Chiara Allon.
Os pilares foram dispostos da mesma forma em que Gabriel os
encontrara, em duas fileiras retas separadas por cerca de 6 metros. O mais
alto estava enegrecido pelo fogo do incêndio provocado pelos babilônios na
noite em que derrubaram o Templo — considerado pelos judeus da
Antiguidade como a moradia de Deus na Terra. Fora a esse pilar que Eli
Lavon se agarrara quando estava à beira da morte, e foi lá que Gabriel
encontrou Chiara agora segurando uma prancheta e gesticulando na
direção do teto de vidro. Ela vestia jeans desbotados, sandálias sem salto e
um moletom branco sem mangas que marcava bem as curvas de seu corpo.
Os braços descobertos estavam bem bronzeados pelo sol de Jerusalém.
Chiara parecia incrivelmente linda, pensou Gabriel, e jovem demais para ser
a esposa de um sujeito tão acabado quanto ele.
No alto da obra, dois técnicos estavam fazendo ajustes nas luzes da
exposição sob a supervisão de Chiara. Ela falava com eles em hebraico, com
um sotaque italiano acentuado. Filha do rabino-chefe de Veneza, havia
passado a juventude no mundo provinciano de um gueto, partindo apenas
por tempo suficiente para cursar o mestrado em História Romana na
Universidade de Pádua. Ela voltara a Veneza depois de se graduar e
aceitara um emprego num pequeno museu judaico no Campo del Ghetto
Nuovo, e talvez tivesse permanecido lá para sempre se um observador de
talentos do Escritório não tivesse reparado nela durante uma visita a Israel.
O homem apresentara-se num café de Tel Aviv e perguntara a Chiara se ela
estaria interessada em fazer mais pelo povo judeu do que trabalhando no
museu de um gueto moribundo.
Após passar um ano no programa de treinamento secreto do
Escritório, ela retomou sua vida antiga, já como agente secreta israelense.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1