A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Você não acha interessante que eu tenha uma ancestral judia?
— Por minha experiência, a maior parte dos europeus tem um
parente judeu escondido em algum lugar.
— A minha estava em plena vista.
— Onde ela nasceu?
— Na Alemanha.
— Ela foi para a Inglaterra durante a guerra?
— Logo antes. Ela foi abrigada por um tio distante que não se
considerava mais judeu. Ele lhe deu um nome cristão adequado e a mandou
para a igreja. Minha mãe só soube que tinha um passado judeu com 30 e
tantos anos.
— Odeio ser portador de más notícias — disse Gabriel —, mas, na
minha opinião, você é judeu.
— Para ser sincero, sempre me senti um pouco judeu.
— Você tem aversão a mariscos e a ópera alemã?
— Quis dizer num sentido espiritual.
— Você é um assassino profissional, Keller.
— Isso não significa que eu não acredite em Deus. Na verdade,
suspeito que eu saiba mais sobre a sua história e as suas escrituras do que
você.
— Então por que você anda com aquela mística maluca?
— Ela não é maluca.
— Não me diga que você acredita naquela bobagem.
— Como ela sabia que estávamos procurando a garota?
— Suponho que o don lhe tenha dito.
— Não — discordou Keller, balançando a cabeça. — Ela viu. Ela vê
tudo.
— Como a água e as montanhas?
— Sim.
— Nós estamos no sul da França, Keller. Eu também vejo água e
montanhas. Inclusive, parecem estar por toda parte.
— É óbvio que ela deixou você nervoso com aquela conversa sobre
um velho inimigo.
— Eu não fico nervoso. Quanto a velhos inimigos, não consigo sair da
porta de casa sem trombar com um.
— Então talvez você devesse mudar a porta da sua casa de lugar.
— Isso é um provérbio corso?

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