A Garota Inglesa

(Carla ScalaEjcveS) #1

— No ambiente global competitivo da economia atual, é o que todo
mundo está fazendo.
— Não o don.
— O don é diferente. Nós somos uma família, um clã. E você está
certo quanto a uma coisa: Marcel Lacroix teve sorte de não ter sido morto
por um assassino a mando de Paul. Se ele se atrevesse a pedir mais dinheiro
a Don Orsati depois de completar um trabalho, teria acabado no fundo do
Mediterrâneo dentro de um caixão de concreto.
— Que é onde ele está agora.
— Exceto pela parte do concreto, claro.
Gabriel olhou para Keller com desaprovação, mas não disse nada.
— Foi você que arrancou o brinco dele.
— Um lóbulo da orelha rasgado é um mal temporário. Uma bala no
olho é um mal eterno.
— E o que a gente deveria ter feito com ele?
— Poderíamos tê-lo levado para a Córsega e o deixado com o don.
— Confie em mim, Gabriel, ele não teria durado muito. Orsati não
gosta de problemas.
— E, como Stálin gostava de dizer, “a morte resolve todos os
problemas”.
— “Se não há homem, não há problema” — Keller completou a
citação.
— E se o homem estivesse mentindo para nós?
— O homem não tinha motivos para mentir.
— Por quê?
— Porque sabia que nunca ia sair vivo do barco — disse Keller, e
acrescentou baixinho: — Ele só estava torcendo para ter uma morte indolor.
— Essa é outra de suas teorias?
— Regras de Marselha. Quando as coisas por aqui começam de forma
violenta, sempre terminam com violência.
— E se René Brossard não estiver sentado no Le Provence às cinco e
dez com uma maleta de metal? O que faremos?
— Ele vai estar lá.
Gabriel queria ser confiante como Keller, mas sua experiência o
impedia. Consultou o relógio e calculou o tempo que tinham para salvar a
garota.
— Caso Brossard apareça, talvez seja melhor não o matarmos antes

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