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AIX-EN-PROVENCE, FRANÇA
Às 17hl8, o tempo pareceu parar. O ruído distante do trânsito
diminuiu, as pessoas na pequena praça congelaram, como se fossem uma
pintura a óleo feita por Renoir. Gabriel, o restaurador, foi capaz de examinar
a cena com todo o tempo do mundo. Um quarteto de alemães bem-vestidos
examinava o cardápio num restaurante espanhol. Duas garotas
escandinavas de sandálias analisavam, confusas, o último mapa de papel do
mundo inteiro. Uma mulher atraente sentada na base da coluna romana
com um garoto de uns 3 anos nos joelhos. E um homem no Le Provence sem
nenhuma companhia além da maleta com 100 mil euros. Um dinheiro que
fora fornecido por um homem sem país, chamado apenas de Paul. Gabriel
olhou para a mulher e a criança e, em sua mente, viu um clarão de fogo e
sangue. Em seguida, observou de novo o homem sozinho no café. Já eram
17h20. No instante em que o relógio de Gabriel mostrou 17h21, o homem se
levantou, pegou a maleta e partiu.
“Há um plano B, caso um de vocês não consiga aparecer?”
“Le Cézanne, subindo um pouco a rua!’
“Quanto tempo ele vai esperar lá?”
“Dez minutos.”
“E se você não der as caras?”
“O acordo é cancelado.”
Mas por que um criminoso profissional deixaria de aparecer para um
pagamento de 100 mil euros? Porque o criminoso estava, naquele instante,
no fundo do Mediterrâneo, a quase 13 quilômetros a su-sueste de Marselha,
com uma bala no cérebro. René Brossard não poderia saber disso, claro, e essa
era a razão pela qual Gabriel estava com o telefone do homem morto à mão.
Observou Brossard se mover rapidamente pela rua sombreada, com a maleta
na mão. Então, olhou para os alemães e as escandinavas, para a mãe e o filho
que, num dos recônditos mais escuros de sua memória, ainda estavam
queimando. Eram 17h22. Em oito minutos a perseguição teria início. Bastava
um erro. Um erro, e Madeline Hart morreria. Tomou mais um gole da
cerveja, porém sentia agora um gosto horrível. Fitou a mulher e o garoto e
observou, impotente, enquanto as chamas consumiam a carne deles.