A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

escala das ruas das cidades onde iria levar a cabo as mortes: Londres, Cairo,
Washington. Levantava-se cedo todas as manhãs e trabalhava enquanto Astrid
dormia. Depois passavam duas horas juntos, a falar e a planear, até que ela se
dirigia à livraria, às dez horas.
À tarde, as paredes começavam a oprimi-lo e Delaroche levava emprestada
a terrível bicicleta de Astrid e pedalava através das ruelas estreitas à volta do canal.
Encontrou uma loja de material de pintura, comprou um pequeno estojo de
aguarelas e pintou vários belos quadros das pontes, dos barcos e das casas de
fachadas triangulares sobranceiras aos canais. No quarto dia, uma frente fria
começou a soprar, vinda do mar do Norte. Nos dois dias seguintes, o Krista
encheu-se com os gritos divertidos de centenas de patinadores que deslizavam
sobre a superfície gelada do Prinsengracht.
Todas as noites ia buscar Astrid à livraria e levava-a a um restaurante
diferente. Depois passeavam ao longo dos canais batidos pelo vento e bebiam
cerveja De Konmck nos bares impregnados do odor a cannabis de Leidseplein.
Fez amor com ele duas noites seguidas, e depois rejeitou-o outras duas.
Astrid tinha um sono agitado, atormentado por pesadelos. Na véspera da partida
acordou em pânico, alagada em suor, à procura da pequena Browning automática
que mantinha sempre no chão, ao lado da cama. Poderia ter matado Delaroche,
caso este não lhe tivesse retirado a arma das mãos, antes que ela a destravasse. Fez
amor com ele loucamente e implorou-lhe que nunca a deixasse.
A manhã seguinte acordou gelada e cinzenta. Fizeram as malas em silêncio
e trancaram o Krista com um cadeado. Delaroche destruiu os quadros. Astrid
telefonou para a livraria. Surgira-lhe uma emergência familiar e precisava de
alguns dias de folga. Iria manter-se em contato.
Foram de táxi até a Centraalstation e apanharam o comboio da manhã para
a vila de Hoek van Holland. Seguiram mais uma vez de táxi para o terminal dos
ferries e tomaram um pequeno-almoço tardio de pão e ovos num pequeno
restaurante à beira da água. Uma hora depois embarcaram no ferry para Harwich,
na Grã-Bretanha, do outro lado do mar do Norte.
A travessia costumava demorar seis horas, com bom tempo, oito ou mais,
com o mar revolto. Nesse dia, as águas eram fustigadas por uma tempestade
gelada vinda do mar da Noruega. Astrid, propensa a enjoos, passou grande parte
da viagem na casa de banho, vomitando com violência, sempre a maldizer o nome
de Delaroche. Este estava no convés, ao ar gélido, a observar as ondas que
rebentavam na proa do ferry.
Pouco antes de chegarem, Astrid mudou a aparência. Apanhou o cabelo
louro e cobriu a cabeça com uma peruca preta que lhe dava pelos ombros.

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