─ É só um dia ─ garantiu. ─ Ida e volta, com algumas reuniões pelo meio. ─
Se é uma coisa tão rotineira, por que não enviou o Carter outra pessoa? Elizabeth
não era litigante, exercia direito na calma das sombras empresariais, mas era
mestre na arte do contra-interrogatório. Esmurrou a buzina. Michael sabia que
acabara de ser declarado testemunha hostil.
─ Um oficial da espionagem britânica foi assassinado em Londres, ontem à
noite ─ replicou Michael calmamente. ─ Pode ter alguma coisa a ver com um caso
no qual já trabalho há muito tempo.
─ Li sobre isso no Post desta manhã. O IRA reivindicou a responsabilidade.
Desde quando tens alguma coisa a ver com o IRA? Pensei que o teu currículo
incluía exclusivamente terrorismo árabe.
─ É verdade, mas julgamos que possa haver uma ligação.
Michael esperava que ela ignorasse o assunto. A viagem a Londres fora sua
ideia, não de Carter, que queria o trabalho de ligação feito por um agente da
Estação de Londres. Michael convencera Carter a enviá-lo.
─ Daqui a dois dias vão recolher-me os óvulos. Nessa altura vão fertilizá-los
com esperma. Preferia que fosse o teu, Michael.
─ Eu volto. Não te preocupes. E, se por acaso houver algum problema,
temos um trunfo na manga. Congelado.
Devido à natureza do seu trabalho, e à possibilidade de uma viagem
inesperada, os médicos do Cornell Medical Center tinham recomendado que se
congelasse algum do esperma de Michael.
─ Gostaria que lá estivesses para me dar apoio emocional, Michael ─ disse
Elizabeth. ─ Pensei que os agentes de casos fossem bons nessas coisas. O mínimo
que podes fazer é estar comigo. ─ E vou lá estar. Prometo.
─ Cuidado com aquilo que prometes, Michael.
Saiu da Beltway, entrando na estrada de acesso a Dulles. O trânsito reduziu
de intensidade e Elizabeth acelerou até os cem. A lua cheia pairava sobre os
campos de Virgínia, amortalhada por uma camada transparente de nuvens.
Michael acendeu um cigarro e entreabriu o vidro da janela. Elizabeth conduzia com
agressividade, mudando de faixa sem abrir o pisca, colando-se ao carro da frente,
fazendo sinais de luzes a quem se atrevesse a conduzir a menos de cento e dez na
faixa de ultrapassagem. Michael sabia o verdadeiro motivo do mau humor de
Elizabeth. Ia para Londres investigar um ato de terrorismo, e a esposa sabia que
isso levaria a que pensasse no assassinato de Sarah. O seu orgulho impedia-a de o
admitir, mas os sentimentos estavam bem patentes na expressão ansiosa do rosto.
Ficaria ainda mais perturbada se Michael lhe contasse a verdade: Que suspeitava
que Sarah e o agente britânico tinham sido assassinados pelo mesmo homem. ─
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1