estivesse ao regressar, provavelmente ninguém teria entrado no quarto. Caso
tivesse desaparecido, alguém lá teria estado.
Correu pelos caminhos de Hyde Park debaixo de nuvens plúmbeas,
carregadas de chuva. O céu abriu dez minutos depois de ter iniciado o treino. Os
londrinos que passavam, abrigados pelos guarda-chuvas fustigados pelo vento,
fitavam-no como se fosse um louco em fuga. Após quinze minutos ficou ofegante e
começou a andar. Conseguira manter a forma física ao longo dos anos, apesar de
ser fumante, mas agora os cigarros cobravam seu preço. E Elizabeth tinha razão:
estava ficando com barriga.
Regressou correndo ao hotel. O papel caiu ao chão quando abriu a porta do
quarto. Tomou uma ducha e vestiu um terno completo azul-marinho. Apanhou um
táxi até Grosvenor Square e exibiu a identificação ao Marine de guarda à entrada.
Michael sentia-se desconfortável nas embaixadas. Nunca deixara de ser um NOC.
Quando se encontrava sedeado em Londres, apenas ia à embaixada em situações
de emergência, e sempre "às escuras", o que significava que entrava pelo
estacionamento subterrâneo, nos fundos de uma van. Gostava de não ter ido ali,
mas as regras do Centro exigiam uma visita de cortesia ao chefe de estação local.
O chefe de pessoal de Londres era um homem chamado Wheaton, um
anglófilo assumido de bigode fino, terno riscado de Savile Row e o hábito irritante
de apertar uma bola de tênis sempre que não sabia o que dizer. Wheaton pertencia
à velha guarda: Princeton, Moscou, cinco anos como chefe do gabinete russo antes
de assumir o seu posto definitivo em Londres. Disse ter conhecido o pai de
Michael, mas não disse que gostara dele. Também deixou bem claro que não
acreditava que a Estação de Londres precisasse de ajuda do CTCNT, o
Counterterrorist Center (Centro Contraterrorista) para aquele caso. Michael
prometeu deixá-lo a par de tudo o que descobrisse. Wheaton disse educadamente a
Michael que gostaria de o ver longe da cidade o mais depressa possível. O táxi
deixou Michael no terraço georgiano branco de Eaton Place. Helen e Graham
Seymour possuíam uma casa agradável e, da rua, Michel podia vê-los como atores
num palco de vários níveis: Graham no andar de cima, na sala, Helen abaixo do
nível da rua, na cozinha. Desceu as escadas e bateu à vidraça da porta da cozinha.
Helen desviou a atenção dos cozinhados e exibiu um sorriso rasgado.
Abriu a porta e beijou-lhe a face.
─ Jesus, Michael, há tanto tempo. ─ Serviu vinho Sancerre num copo e
colocou-o na mão dele. ─ Graham está lá em cima. Vão pôr a conversa em dia
enquanto acabo o jantar.
Quando Michael entrou na sala, Graham Seymour remexia na lareira a gás.
A sala tinha painéis e soalho de madeira, com uma série de tapetes orientais e
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1