A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

e a Monica Tyler, pois precisava da sua proteção. Também diria tudo a Elizabeth,
mas por razões muito diferentes. Amava-a mais do que a qualquer outra coisa e
desejava ansiosamente recuperar a sua confiança.
Cannon Point surgiu diante dos seus olhos. Michael parou junto ao portão
de segurança, baixou o vidro e digitou o código. O portão abriu e viu acenderem-se
as luzes na casa do caseiro. Michael conduziu devagar pelo acesso de cascalho. Um
grupo de veados de cauda branca, a pastar na erva morta do extenso relvado dos
Cannon, olhou para cima e fitou Michael cautelosamente. Viu um raio de luz e
ouviu cães a ladrar. Era apenas Charlie, o caseiro, a caminhar na sua direção, com
os retrievers a latirem à volta dos seus tornozelos.
Michael desligou o motor e saiu do carro. Acenderam-se luzes na casa
principal e a porta abriu de rompante. Viu Elizabeth emoldurada pela luz, envolta
num dos velhos casacos do senador. Saiu para a rua, observando-o, com os braços
cruzados sob os seios. O vento soprou-lhe o cabelo sobre o rosto. Depois deu
alguns passos cuidadosos até junto dele e aninhou-se contra o seu corpo. ─ Nunca
mais volte a me deixar, Michael.
─ Não volto ─ prometeu. ─ Meu Deus, Elizabeth, lamento tanto.
─ Quero conversar. Quero que me conte tudo.
─ Eu vou contar tudo, Elizabeth. Há coisas que precisa saber.
Conversaram durante horas. Elizabeth sentou-se na cama, o queixo apoiado
nos joelhos, brincando com um Benson Hedges por acender. Michael andava de um
lado para o outro, ora sentando-se ao lado dela, ora olhando pela janela, para as
águas do Sound. Fiel à sua palavra, contou-lhe tudo. Sentiu a tensão diminuir com
a revelação de cada segredo. Desejou nunca lhe ter escondido nada desde o início.
Sempre dissera a si próprio que era para proteção de Elizabeth, mas agora
apercebia-se de que isso era apenas parte da verdade. Tivera uma vida de segredos
e de mentiras durante tanto tempo, que não conhecia outra forma de viver. O sigilo
era como uma doença, uma maleita. O pai apanhara-a e dera com a mãe em louca.
Michael deveria ter evitado cometer os mesmos erros.
Depois de terminar, Elizabeth ficou calada durante muito tempo.
─ O que queres de mim? ─ perguntou finalmente.
─ Perdão ─ respondeu ele. ─ Perdão e compreensão.
─ Tens isso, Michael. ─ Voltou a colocar o cigarro por acender dentro do
maço.
─ O que vai acontecer amanhã em Langley?
─ Provavelmente vão pôr-me à frente uma quarenta e cinco carregada.
─ De que estás a falar?
─ Vou estar metido em grandes sarilhos. Posso não sobreviver.

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