A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

DEZEMBRO


NORTE DO CANADÁ


O Gulfstream posicionou-se abaixo do radar sobre o Estreito de Davis e
aterrou numa estrada remota, iluminada por foguetes de sinalização, ao longo das
praias orientais de Hudson Bay. Astrid e Delaroche desceram as escadas, Delaroche
com a mochila de nylon a tiracolo, Astrid com as mãos sobre o rosto para se
proteger do ar cruel do Árctico. Stephens não chegou a desligar os motores. Assim
que Astrid e Delaroche se afastaram, fez novamente o avião deslizar pela estrada e
o Gulfstream descolou em direção à límpida manhã canadiana. Um Range Rover
preto aguardava-os na beira da estrada, cheio de equipamento para o tempo frio
(calçado de neve, mochilas, parkas e comida desidratada) e um maço de instruções
de viagem detalhadas. Entraram e fecharam as portas, deixando o ar frio lá fora.
Delaroche deu à chave e o motor roncou, tentou arrancar e depois parou.
Delaroche sentiu um aperto no coração. O avião desaparecera. Estavam
completamente sozinhos. Se o carro não funcionasse, não conseguiriam sobreviver
por muito tempo.
Deu mais uma vez à chave e, dessa vez, o motor pegou. Astrid, tipicamente
alemã por um instante, disse:
─ Graças a Deus.
─ Pensava que eras uma boa ateia comunista ─ aventou Delaroche.
─ Cale-se e liga o aquecimento.
Fez o que ela pediu. Depois abriu o maço e tentou ler as instruções, mas
não lhe valeu de nada. Retirou uns óculos de leitura em forma de meia-lua do bolso
do peito do casaco e colocou-os.
─ Nunca te vi usar isso antes, Jean-Paul.
─ Não gosto de usá-los na frente das pessoas, mas às vezes não posso
evitar.
─ Parece um professor, em vez de um assassino profissional.
─ É essa a ideia, meu amor.
─ Como é que mata pessoas tão bem, se não consegue ver?
─ Porque estou atirando nelas, e não lendo-as. Se tivessem palavras escritas
na testa, precisaria dos óculos.
─ Por favor, Jean-Paul, dirija o maldito carro. Estou morrendo congelada.
─ Tenho que saber para onde vou, antes de começar a viagem.

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