A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

Elizabeth beijou-lhe os lábios. ─ Por que você virou espião?
─ Não nos tratamos por espiões. Somos agentes.
─ Certo. Por que virou agente?
Michael soltou uma das suas habituais gargalhadas controladas.
─ Não faço ideia.
O pai achou que era uma loucura casar-se com um agente da CIA. Servira
no Senate Selet Intelligence Committee e, embora detestasse generalizações por
princípio, acreditava que os espiões da nação eram um bando de malucos e de
alucinados. Abriu uma exceção com Michael. Os dois homens passaram um dia a
velejar em Gardiners Bay e o senador abençoou com fervor a união. Havia muita
coisa que Elizabeth odiava no trabalho de Michael: as horas extraordinárias, as
viagens para locais perigosos, o fato de não saber ao certo o que ele fazia. Tinha
noção de que a maior parte das mulheres consideraria inaceitável o casamento que
ela tinha. Gostava de pensar que era mais forte do que a maior parte das mulheres,
mais Sra. de si, mais independente. Contudo, era naquelas alturas que desejava que
o marido tivesse um emprego normal.
A sala estava em silêncio, salvo pelo televisor que apresentava
continuamente um programa de vendas apresentado por uma mulher que
Elizabeth detestava. Queria alguma coisa para ler, mas o tema das revistas era a
educação de crianças, um assunto desagradável para uma mulher de quarenta anos
sem filhos. Tentou mudar de canal para ver as notícias, mas o televisor não o
permitia. Procurou baixar o som, mas o volume estava bloqueado. Acabaram de
abater um avião de passageiros e estou encurralada com esta loura sonsa a tentar
vender-me creme para bebês, pensou. Voltou à janela e procurou uma última vez o
carro de Michael. Era uma tolice ainda esperar que Michael chegasse. Uma das
poucas coisas que sabia acerca do trabalho do marido era que tinha a ver com
contraterrorismo. Teria sorte se ele voltasse a casa nessa noite.
A enfermeira apareceu no corredor.
─ O doutor vai recebê-la agora, Sra. Osbourne. Por aqui.
Elizabeth agarrou na pasta e na gabardina e seguiu a enfermeira pelo
corredor estreito.
Quarenta minutos depois, Elizabeth desceu de elevador até o hall e saiu
para o passeio coberto. Ergueu o colarinho e aventurou-se na chuva torrencial. O
vento empurrava-lhe o cabelo para o rosto e fustigava-lhe a capa.
Elizabeth parecia nem notar. Sentia-se dormente.
As palavras do médico ecoavam em sua mente como uma melodia irritante
que não conseguia esquecer. “Não pode ter filhos naturalmente... Há um problema

Free download pdf