A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

no alvo da chacota do mundo da espionagem. Sabia que nada podia fazer para
inverter o rumo que a Rússia tomara. Era como um navio imenso a agitar-se no mar
revolto. Demoraria muito tempo a mudar de rota, muito tempo a parar. Kalnikov
desistira da sua Rússia, mas não de si próprio. Afinal de contas, tinha família: uma
mulher, Katya, e três belos filhos. As suas fotografias eram o único toque pessoal
no gabinete frio e estéril.
Kalnikov decidira utilizar a sua posição para enriquecer. Era o líder de um
grupo de homens, oficiais do exército e da espionagem, membros da mafiya, que
vendia o material militar russo em mercado aberto à melhor oferta. Kalnikov e os
seus homens tinham vendido tecnologia nuclear, urânio para armas e tecnologia de
mísseis ao Irã, à Síria, à Líbia, à Coreia do Norte e ao Paquistão. Com isso tinham
arrecadado dezenas de milhões de dólares. Sintonizou a CNN e escutou um painel
de peritos que discutia a apresentação do Presidente Beckwith. Este queria
construir um sistema de defesa contra mísseis, um escudo que protegesse os
Estados Unidos dos loucos internacionais. Em breve esses loucos iriam bater à
porta de Kalnikov. Pretenderiam apoderar-se de tanto material quanto possível, e
depressa. O Presidente Beckwith dera início a uma corrida internacional ao
armamento, uma corrida que deixaria Kalnikov e os seus comparsas ainda mais
ricos. Constantin Kalnikov sorriu consigo mesmo.
Fora o melhor milhão de dólares que gastara.
Elizabeth Osbourne dirigia na chuva ao longo da Massachusetts Avenue,
em direção a Georgetown. Fora uma noite muito longa e sentia-se exausta. Rock
Creek passou lá em baixo. Procurou no porta-luvas, encontrou um maço antigo de
cigarros e acendeu um. Estava seco e bolorento mas, mesmo assim, o fumo sabia-
lhe bem. Fumava apenas alguns cigarros por dia e dizia para com os seus botões
que poderia largar o vício quando quisesse. Se engravidasse, deixaria de fumar de
certeza. Meu Deus, pensou, dava tudo só para poder engravidar. 97
Afastou o pensamento. Cruzou Sheridan Circle e desceu para a Q Street.
Pensou no jantar. Na mente recordava excertos de conversas disparatadas. À frente
dos olhos passavam-lhe imagens da mansão de Mitchell Elliott, como se fossem
filmes antigos. Muito depois de chegar a casa, já deitada na cama à espera de
Michael, uma dessas imagens insistia em permanecer-lhe no pensamento. Era a
imagem de Mitchell Elliott e de Samuel Braxton, chegados um ao outro no jardim
escurecido como um par de adolescentes, a brindarem com champanhe.

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