PRÓLOGO
FRONTEIRA AUSTRO-TCHECA
AGOSTO DE 1968
O holofote percorreu o campo aberto. Estavam numa vala no lado checo da
fronteira: um homem, uma mulher e um adolescente. Nas noites anteriores outros
tinham passado por ali ─ dissidentes, reformistas, anarquistas ─ na esperança de
fugir aos russos que tinham invadido a Tchecoslováquia e esmagado a experiência
de liberdade levada a cabo por Alexander Dubcek, já conhecida como "Primavera
de Praga". Alguns tinham conseguido. A maior parte fora detida. O próprio
Dubcek fora sequestrado e levado para a União Soviética. Segundo os boatos que
corriam, havia quem tivesse sido levado para um batatal próximo e fuzilado.
As três pessoas na vala não estavam preocupadas com o fato de
conseguirem ou não fugir. Tinha-lhes sido ordenado que fossem àquela hora, e
garantido que a passagem para o Ocidente correria sem problemas. Não tinham
motivos para duvidar do que lhes fora dito, pois os três eram agentes do Comité
Soviético para a Segurança do Estado, mais conhecido como KGB.
O homem e a mulher serviam no Primeiro Direktorado do KGB. As suas
ordens eram infiltrarem-se nas comunidades de checos e russos dissidentes no
Ocidente. O rapaz estava ligado ao Departamento V, os assassinos.
O homem rastejou até o alto da vala e perscrutou a noite. Deitou o rosto na
erva fresca e úmida quando a luz lhe passou por cima. Com o regresso da
escuridão, voltou a erguer-se e observou.
A lua em quarto pairava no horizonte, o que garantia luz suficiente para se
ver com clareza: a torre de vigia, a silhueta do guarda fronteiriço, um segundo
policial a caminhar ao longo do caminho de cascalho que dava acesso à vedação. O
homem olhou para o mostrador luminoso do relógio. Virou-se e murmurou em
checo.
─ Fiquem aqui. Vou ver se estão prontos para nós. Rastejou sobre o topo da
vala e desapareceu.
A mulher olhou para o rapaz. O jovem não tinha mais do que dezesseis
anos e ela passara as noites acordada com fantasias sexuais com ele desde a sua