A Marca do Assassino

(Carla ScalaEjcveS) #1

orgasmo percorreu-a, onda após onda maravilhosa. Abraçou-o com força e
começou a rir.
─ Não faça barulho, se não vai acordar seu pai.
─ Aposto que dizes o mesmo a todas as moças. Voltou a rir.
─ Qual é a graça?
─ Nada, Michael. Nada. Sou eu que te amo muito.
Douglas Cannon adorava velejar, mas detestava sair com o barco no Verão.
Nessa altura, as águas de Gardiners Bay encontram-se repletas de chalupas, barcos
à vela, barcos a motor e, o que era pior, motas de água, as quais, para Cannon, eram
um sinal claro do fim do mundo que se aproximava. Tentara proibi-las nas águas
em redor da ilha, mas sem sucesso, mesmo depois de uma menina de dez anos ter
sido abalroada e morta ao largo de Upper Beach. Michael esperara uma tarde
descontraída à lareira, com uma pilha de jornais, um livro e um bom vinho da vasta
adega de Cannon. No entanto, ao meio-dia a chuva parou e um sol tímido mostrou-
se por entre as nuvens. Cannon apareceu com uma blusa grossa de lã e um casaco
de oleado.
─ Vamos embora, Michael.
─ Deve estar a brincar. Estão cinco graus lá fora.
─ Perfeito. Anda. Precisas de exercício.
Michael olhou para Elizabeth, em busca de ajuda. Ela estava deitada no
sofá, a trabalhar numa série de casos.
─ Vai com ele, Michael. Não o quero lá fora sozinho.
─ Elizabeth!
─ Não sejas tão piegas. Além disso, o papá tem razão. Estás a ficar um
bocado mole. Vamos, eu levo-os.
Assim, vinte minutos depois Michael estava a bordo da Athena, a chalupa
de dez metros de Cannon, enrolado num pulôver de malha e num casaco de lã, a
puxar um cabo da bujarrona gelado, como se fosse um lendário pescador de
Gloucester. Cannon bradava ordens a partir da roda do leme, enquanto Michael
corria pelo convés de proa escorregadio, a esticar as velas e a travar os cabos,
fustigado por um vento de trinta quilômetros por hora. Tropeçou num cunho e
quase caiu. Interrogou-se quanto tempo sobreviveria nas águas gélidas, se caísse
borda fora, e se Cannon, de setenta anos, teria reflexos suficientes para lhe salvar a
vida.
Lançou um derradeiro olhar à casa. O vento enfunava as velas da Athena. O
casco ergueu-se da água e inclinou-se ligeiramente para estibordo. Conseguia ver
Elizabeth no relvado, de arco e flecha em riste, a cinquenta metros do alvo, a
acertar no centro repetidas vezes.

Free download pdf