No mercado de rua, escolhia os legumes, a carne e o marisco com a
preocupação dos chefs dos restaurantes e das estâncias. Por vezes, levava a mulher
com quem estivesse na altura, sempre uma forasteira, nunca uma bretã, outras
vezes ia sozinho. Ocasionalmente os homens que passavam as tardes com vinho
tinto, queijo de cabra e cartas convidavam-no para se juntar a eles. Mas o solitário
apontava sempre para o relógio, como se tivesse assuntos prementes algures, e
empilhava as compras na velha furgoneta Mercedes, para a viagem de regresso ao
seu refúgio junto ao mar.
Como se o tempo importasse, em Brélés, comentaria Didier, os lábios
revirados para baixo no seu desdém habitual. É o vento, acrescentava. O vento deu
com ele em doido.
A manhã de Novembro estava limpa e luminosa, com o vento a soprar
vindo do mar enquanto Delaroche pedalava ao longo do estreito percurso costeiro.
Dirigia-se para oeste vindo de Brest, a caminho do Pointe-de-Saint-Mathieu. Vestia
calças de algodão sobre os calções de ciclismo e uma blusa de gola alta por baixo de
um anoraque verde fluorescente, apertado o suficiente para evitar adejar com o
vento, mas solto quanto bastasse para ocultar a volumosa pistola 121 automática
Glock de 9 mm que trazia debaixo da axila esquerda. Apesar das várias camadas de
roupa, o ar salgado cortava como uma faca. Delaroche baixou a cabeça e pedalou
com mais força até o promontório. Quando passou pelas ruínas batidas pelo vento
de um mosteiro beneditino do século vi, a estrada ficou nivelada durante algum
tempo. Depois rumou para norte durante vários quilômetros, sempre com um
vento marítimo gelado a acompanhá-lo, a estrada a subir e a descer de um modo
ritmado por baixo das rodas. A leve bicicleta italiana aguentava-se bem naquele
terreno agreste. Uma subida íngreme apareceu à sua frente. Engrenou outra
mudança e pedalou mais depressa. Ao conquistar a elevação entrou na aldeia
piscatória de Lanildut.
Comprou dois croissants num café e reabasteceu as garrafas, uma com suco
de laranja e a segunda com café au lait fumegante. Delaroche devorou o croissant
enquanto pedalava. Passou pelo Presqu'elle de Sainte-Marguerite, um dedo rochoso
que rasgava o mar, abençoado com algumas das mais belas paisagens marítimas de
toda a Europa. Depois vinha a Côte des Abers, a costa dos estuários, uma vasta
extensão plana que abrangia uma série de rios que desciam das terras altas do
Finistère até o mar.
Quando entrou na aldeia de Brignogan-Plage sentiu os primeiros sinais de
cansaço. Além da povoação, ao fundo de um caminho estreito, ficava uma praia de
areia tão branca que lembrava neve. Uma antiga pedra erguida, conhecida na
Bretanha como menir, servia de sentinela à entrada. Delaroche desmontou-se e
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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