— Quem é ele?
A mulher sorriu e abriu a porta do carro.
— Não se preocupe com sua mala. Alguém vem pegar.
A primeira coisa que Natalie notou depois de sair do carro foi o cheiro — o cheiro de
terra adubada e grama recém-cortada, o cheiro de flores e pólen, o cheiro de animais e
esterco fresco. Sua roupa, percebeu de repente, era totalmente inadequada para um lugar
assim, especialmente as sapatilhas, pouco mais grossas que as de balé. Estava irritada
com a mulher, por não ter dito a ela que o destino era uma fazenda no vale de Jezreel.
Então, enquanto atravessavam a grama verde grossa, Natalie notou, de novo, a
coxeadura, e todos os pecados foram perdoados. O homem na varanda ainda não tinha
se mexido. Apesar das sombras, Natalie sabia que ele a estava observando com a
intensidade de um retratista estudando seu retratado. Por fim, ele desceu lentamente os
três degraus que levavam da varanda ao gramado, saindo da sombra para a luz do sol.
— Natalie — cumprimentou-a, estendendo a mão. — Que bom finalmente conhecê-
la. Espero que a viagem não tenha sido difícil demais. Bem-vinda a Nahalal.
As têmporas dele tinham cor de cinzas, os olhos eram de um tom inquietante de
verde. Alguma coisa era familiar naquele rosto bonito. Então, de um golpe, Natalie
lembrou onde o tinha visto antes. Soltou a mão dele e deu um passo para trás.
— Você é...
— Sim, sou ele. E, obviamente, estou bem vivo, o que quer dizer que você está em
posse de um importante segredo de Estado. Espero — adicionou, em tom de
confidência — poder confiar que você vai guardá-lo.
Ela assentiu com a cabeça.
— Seu obituário no jornal, no Haaretz, foi muito comovente.
— Também achei. Mas você não deveria acreditar em tudo o que lê nos jornais.
Logo vai descobrir que cerca de setenta por cento da história é confidencial. E as coisas
difíceis quase sempre são conquistadas inteiramente em segredo.
O sorriso dele esvaneceu, os olhos verdes examinaram o rosto dela.
— Fiquei sabendo que teve uma noite longa.
— Temos tido muitas assim, ultimamente.
— Os médicos em Paris e Amsterdã também tiveram noites longas recentemente —
ele inclinou a cabeça de leve para um lado. — Imagino que tenha acompanhado de perto
as notícias do atentado no Marais.
— Por que imagina isso?
— Porque você é francesa.
— Agora sou israelense.